The enneagram is a nine pointed star which was drawn for
the first time by Pythagoras, who about 525 B.C. founded a mysterious
Brotherhood, holding that the deepest reality is mathematical in nature, that
certain symbols have a mystical significance and that all Brothers of the Order
should observe strict secrecy. The enneagram is a sort of Hermetic compound summing up the
virtues of the triple triangle: the Occult triangle of Fire (Sulphur), the
Occult triangle of Water (Salt), and the Mystic triangle of Trinity
(Quicksilver, or Mercury). It is also the "square of Adam": 3 x 3 = 9 (the Nine Lesser
Mysteries). The Quest of the Holy Enneagram has always been the
Everlasting Crusade of Portugal: the Water-Ocean as Destiny (5th Empire), the
Fire-Paraclete as Inspiration (Holy Spirit), and the Sebastianist Fortunate
Island as Aspiration (Mercury) - the Gold of the whole being the result of a
global Hermetic operation: Magia Aurea.
Comecemos por anotar que a água é o elemento director de
Portugal: a fazer fé num dos mais conhecidos horóscopos que Fernando Pessoa
erigiu sobre a fundação da nacionalidade portuguesa, o signo Solar do nosso país
é o signo aquóreo Peixes, regido por Neptuno. (Acresce que o
respectivo signo Ascendente é Caranguejo, também ele signo de
água). Neptuno, divindade oceânica, tutelou, por sua voz grega
(Poseidon), a capital da antiga Atlântida, segundo se diz: Poseidonis, que
ocupava o círculo interior desse continente perdido. Aí, o deus padroeiro fez
jorrar de sob o solo duas fontes de água: uma quente e outra fria, enriqueceu a
terra com abundância de vegetação e plantas nutritivas, e engendrou e criou
cinco gerações de filhos homens, e gémeos — os primeiros clones! —, e
estes príncipes e seus descendentes habitaram a Atlântida durante tempos
imemoriais, viajando para outras ilhas e terras que povoaram, até às colunas de
Hércules (Hespéria), até ao Egipto e até à Tirrénia (Platão, Crítias,
113-114). Sendo a Hespéria, ou Hispânia, a terra onde floresceram os Lusitanos
(entre outros), teremos de concluir que ainda pertencemos à estirpe dos Atlantes
ou — horribile dictu! — descendemos dos clones de
Poseidon… Na celebrada tragédia Frei Luís de Sousa (1844) de Almeida
Garrett, D. João de Portugal simboliza o país que lhe compõe o nome, e tem como
signo Ascendente o mesmo signo do Sol de Portugal, podendo apropriadamente
dizer-se, na esteira dum conhecido poeta, pintor e astrólogo contemporâneo: «A
água tem origem celeste e destino terrestre, por oposição ao fogo,
que tem origem terrestre e destino celeste. […] Peixes designa o oceano e
analogicamente o infinito, o êxtase místico, o inconsciente colectivo. É o signo
Ascendente de D. João de Portugal, a água benta que ilumina a epopeia lusa, a
hipnose visionária do cruzado. É também a premonição da catástrofe diluviana, o
refluxo sebástico da ilusão ultramarina» (Cardoso 1978, 13-14). Parece pois indiscutível que a água é um dos elementos ? e
dos mais significativos ? que entram na composição do Mistério de Portugal. O
seu triângulo alquímico V será por conseguinte o primeiro que iremos guardar,
pondo-o de reserva até nos fazer falta, daqui a pouco. Entretanto, e para melhor
arrecadação do que vai seguir-se, ousemos levantar desde já uma pontinha do véu,
e decifremos que o V Império se encontra associado alquimicamente à
oceânica água: a decifração de tal enigma torna-se visível e palpável não só
pela análise histórica mas também pela maneira como tradicionalmente se grafa
esse sintagma, quando referido ao Mistério de Portugal. Reparai que quase nunca
se escreve «5.º Império» e nem sempre «Quinto Império» ? mas de preferência «V
Império». Porquê o V? Porque, naturalmente, basta completá-lo com a coberta, ou
com a superna planura do Paraíso Celeste, para obtermos o símbolo alquímico da
água : V (*). Por sua vez o fogo tão-pouco está ausente desse Mistério:
fogo é Espírito, e o sopro do Espírito Santo, ou Paracleto, bafejando a
iluminação dos nossos monarcas Dinis e Isabel, Fiéis-do-Amor — ou
Infiéis-de-Roma, se aderirmos ao argumento de Sampaio Bruno (Bruno 1960,
142-143) —, fê-los concretizar o triângulo do fogo ∆ associado às heterodoxas
Festas do Império e do Espírito Santo (Culto Paraclético). Eis um segundo
triângulo que nos importa guardar, também: ∆, pondo-o ao lado do anterior, até
descobrirmos o que fazer com ambos. A Água e o Fogo entrelaçam-se, portanto, na vocação do Portugal
Des-Encoberto: de acordo com a perennis Tradição Mistérica, o Livro de
Daniel, do Antigo Testamento, onde o P. António Vieira bebeu a inspiração do V
Império, é um Manual da Iniciação do Fogo, iniciação que se relaciona
alquimicamente com a Calcinação, a Transmutação e a Sublimação — os
Quatro Impérios (Assíria, Babilónia, Pérsia e Roma, ou Assíria, Pérsia, Grécia e
Roma: Daniel 2, 27-45 e 7, 1-27). Logo, o Quinto será o da Nova Ordem Crística,
cujo Umbral, iniciaticamente de Água V, é guardado pelo Leão, da Hierarquia do
signo do mesmo nome (Leão : Fogo ∆), tal como Cristo enunciou: «Quem não nascer
da Água e do Espírito [Fogo] não pode entrar no Reino de Deus» (João 3, 5), ou
seja, no Reino da Nova Ordem de Cristo. Finalmente passemos ao terceiro e último triângulo, a que eu
chamaria o triângulo mercurial do Sebastianismo. «O Sebastianismo é sempre inseparável dos Descobrimentos: como
segundo acto dum drama ou ritual nacional. «Porque, após o descobrimento do caminho para as Índias, como
aquelas que em si detinham o prestígio do centro, este posteriormente
ter-se-ia deslocado e encarnado na Ilha do Encoberto. Ela será desde então,
miticamente, como o umbigo do mundo, a realidade suprema e supremamente
desejada. A que flutua nas águas primordiais — tal outro lótus sagrado de onde
nasce Brama. Receptáculo de vida. «Porque aqui, para a alma portuguesa, será acaso a realidade da
ilha, a que em si detém todo o valor e função e prestígio do centro, tal como
foi a rosa para o Ocidente e o lótus para o Oriente: será ela a flor
secreta. A que no seu interior, no mais profundo das suas pétalas, concebe,
encobre e protege o Salvador do mundo. Ela, a Rosa Mística» (Costa 1978,
140-141). Três triângulos — e uma Ilha Encoberta como
centro! Ora bem, já temos pois os três triângulos da Tradição Hermesista
de Portugal, que fomos guardando à medida que os alinhávamos — e só nos resta
agora descobrir o que fazer com eles. Se traçarmos um círculo com três triângulos equiláteros
inscritos, e equidistantes angularmente entre si, obteremos o eneagrama, estrela
de nove pontas cujo ângulo ao centro é de 40 graus. Já vimos como podemos
associar o V do V Império a um triângulo, o da água, ou do oceano vocação de
Portugal… Levando mais longe a similitude do simbolismo geométrico, constatamos
que os três triângulos eneagramáticos do Portugal Des-Encoberto — do V Império,
do Culto Paraclético e do Sebastianismo — são equipolentes aos três V’s da frase
secreta com que Cristo Jesus inaugurou os Mistérios Cristãos: «Ego sum Via, et
Veritas, et Vita» (João 14, 6). Eis o segredo do «Triplo V»! Uma antiga lenda informa-nos que a construção geométrica da
estrela de nove pontas, ou eneagrama, utilizando apenas o compasso e a régua,
foi conseguida pela primeira vez por Pitágoras, que, segundo reza a tradição,
fundou por volta do ano 525 a. C. uma misteriosa Irmandade fundamentada em uns
quantos princípios cardeais, de que destacamos: 1. A realidade última do
universo é de natureza matemática; 2. Certos símbolos detêm um poder arcano que
lhes advém do seu significado místico; 3. Todos os Irmãos da Ordem estão
obrigados a observar o mais rigoroso segredo. No eneagrama deparamos com o 9 (número de vértices
estelares) associado ao 40 (número de graus do ângulo ao centro). Carlos
Calvet descobriu o traçado geométrico que, a partir das medidas da Grande
Pirâmide de Khéops, permite obter a trissecção do ângulo de 120 graus (120 : 3 =
40) que por sua vez dá o lado do eneágono (Calvet 2001,
139-143). São aqueles, igualmente, números simbólicos da Nau Graálica de
Portugal — ou do Porto do Graal. Mas antes que por aí avancemos, recuemos um
pouco: Uma vetusta memória Rosacruciana exumada e revelada por Rudolf
Steiner (1861-1925) e por Max Heindel (1865-1919) ensina-nos que os quatro
Evangelhos, mais do que quatro «biografias» históricas de Jesus, são sobretudo
Rituais de Iniciação de quatro diferentes Escolas de Mistérios. Os três
sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) são rituais de Mistérios Menores; o
Evangelho do Amor (João) é um ritual dos Mistérios Maiores. Os primeiros
compõem-se de nove graus correspondentes às nove Iniciações Menores,
equipolentes aos nove passos capitulares do ministério de três anos de Cristo
Jesus na Terra: 1. Baptismo; 2. Tentação; 3. Transfiguração; 4. Última Ceia e
Lavapés; 5. Agonia no Horto; 6. Flagelação e Coroa de Espinhos; 7. Crucificação
e Estigmas; 8. Morte e Ressurreição; 9. Ascensão. O 9.º grau da Iniciação Crística, Ascensão, ocorreu
40 dias depois do 8.º, segundo lemos nos Actos dos Apóstolos (1,
3). O 8 (octógono) e o 9 (eneágono) são números vinculados ao
Mistério Templário, que por sua vez se associa ao 40 no Mistério da Fundação de
Portugal, 1140, e da sua Restauração, 1640. O «Auto» do
Templarismo fundador é bem conhecido: O Rosacrucianismo Templário do Conde D. Henrique, de D. Teresa e
do filho de ambos, D. Afonso Henriques (c. 1109-1185) é inquestionavelmente
atestado pelas assinaturas destes últimos onde se evidencia a Cruz sobreposta à
Rosa Mística (assinaturas reproduzidas em Daehnhardt 2000, extratexto entre
96-97). Também é inequívoca a declaração do primeiro rei português, dirigida aos
«Soldados do Templo de Salomão», em documento autógrafo datado de 1129, no qual
confirma a doação do Castelo de Soure aos Templários por sua mãe, rainha D.
Teresa: «… e pelo cordial amor que vos tenho, em vossa irmandade e em todas
vossas boas obras sou irmão» — atribuindo-se, portanto, a Irmandade Templária na
dupla vertente iniciática e temporal (Alves 2001, 56). Ressalvemos entretanto uma dúvida que pode surgir nos espíritos
mais atentos e esquadrinhadores: o Conde D. Henrique morreu em 1112, e a
história oficial consagra a data de 1118 para a fundação da Ordem do Templo;
logo, como me atrevi a incorrer na anacronia de incluir o pai de Afonso
Henriques no Templarismo referido acima? O frade franciscano capucho Joaquim de
Santa Rosa Viterbo (1744-1822) ajuda-nos a vislumbrar a resposta: investigando
antigos documentos na Torre do Tombo, encontrou uma inquirição sobre os Usos,
Costumes e Jurisdições dos Templários mandada levantar por D. Dinis com
grande exigência de rigor, e onde se lê: «… tendo o Conde D. Henrique guerra com
os Mouros, os freires tempreiros vieram a ele, e pediram-lhe por Mercê, que os
admitisse no seu serviço, e que lhes desse com que se pudessem sustentar, e
fazer guerra aos inimigos do nome Cristão» (Viterbo 2000, 19). Parece, pois, que já havia Templários antes da data consagrada
para a sua oficial fundação… «A Ordem nasce, ao que parece, em 1118, mas este nascimento
permanece envolto nas brumas da obscuridade e do mistério […] Somente dez anos
mais tarde a História nos deixa traços documentais marcantes: o texto da
Regra Latina anexo ao processo-verbal do concílio de Troyes (1128) e o
texto De laude novae militiae» (Hapel 1991, 9). No entanto, a ideia já
vinha de trás: segundo Jacques de Vitry, cronista do século XIII, quando os
iniciadores da futura Ordem do Templo, Hugues de Payens e Geoffroy de
Saint-Omer, chegaram a Constantinopla por volta do ano 1100, receberam do
Patriarca Teocletes, 67.º sucessor do Apóstolo João, a «missão de fundar um
instituto militar religioso» em sintonia com «os cónegos do Santo Sepulcro,
depositários dos conhecimentos secretos dos essénios, de quem eram descendentes
directos…» (Loução 1999, 105-108). Hugues e Geoffroy agregaram a si mais sete, e os cavaleiros
fundadores foram portanto nove, como é sabido e como devia ser — neles se
integrando, ao que parece, um portugalense —, e, antes de iniciarem o seu
ministério, os nove permaneceram em Jerusalém, em voto iniciático,
durante nove anos. Fazendo as contas, não é descabido presumir que a
fundação secreta da Ordem do Templo possa ter ocorrido, eventualmente, em 1109
ou 1110… Afonso Henriques, ao estabelecer o design rectangular do
novo país, estava já a preparar a semente de uma futura «Unidade de Poder», um
dos princípios Templários, aliada à «Unidade do Amor», ou da fraternidade
universal, expressa veladamente pelos ritos poéticos da Ordem dos Trovadores: «O
seu fito era a criação de uma confederação de estados, de povos livres
organizados em nobreza popular, com base num IDEAL comum. É a ideia do V
IMPÉRIO» (Loução 1999, 128). Essa ideia foi prosseguida pela Ordem de Cristo,
continuadora da Ordem do Templo, por isso se diz que Portugal deu novos mundos
ao mundo: os Cavaleiros do Amor (Cabaleiros, de Cabala), ou Cavaleiros de
Amar, transmutados em Cavaleiros do Mar (signo Solar Peixes, regente Neptuno),
são, nem mais nem menos, os mesmos Cavaleiros do Espírito (Culto Paraclético —
signo iniciático Sagitário, do Fogo) que vão construir o V Império da História
do Futuro. Desenhando um rectângulo em que Portugal caiba por inteiro, e
tomando como unidade a distância que vai de Tomar (zona mágica desde recuados
tempos) até ao lado Oeste do rectângulo, verificamos que o «rectângulo de
Portugal» mede exactamente três unidades por seis. A sua superfície iguala 18
unidades (3 x 6), o mesmo número de unidades do seu perímetro: 3+6+3+6 = 18.
Este número, 18, resolve-se em 9 (1+8), o que mais uma vez associa
indissoluvelmente a sacralidade do eneagrama à sacralidade do design de Portugal
(Calvet 2001, 25 segs., et passim). O «Projecto Áureo Português» é uma alquimia que religa o Culto do
Espírito Santo (Culto Paraclético), o V Império e o Sebastianismo; na verdade é
mais do que uma alquimia, é uma QUÍMICA POÉTICA, uma autêntica operação de
Magia Aurea (Anes 1996, 153 segs.). O eneagrama é pois o símbolo apropriado para sumarizar as
virtudes do triplo triângulo: o triângulo oculto do Enxofre — o Fogo
Paraclético da Inspiração —; o triângulo oculto do Azougue — o
Mercúrio sebástico da Aspiração —; e o triângulo oculto do Sal — a
água oceânica coligadora do V Império, ou do Destino: «Ó mar salgado,
quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal!» (Pessoa 1986, 1159). Tanto vale
dizer que a gesta da portugalidade esculpe no mundo uma estrutura histórica,
espácio-temporal, que substancia as Leis Herméticas: • A Purificação da Alma [Sal — cristalização — cobre], com a
amorosa ajuda da Piedade e do Amor divinos [Mercúrio — dissolução — prata],
cumpre-se pelo Sacrifício no Altar do Mundo [Enxofre — combustão —
ouro]. A Obra Magna que irrompe do nevoeiro, ou a luz que sai de dentro
das trevas, não é apenas uma operação hermética de transmutação: nesta
simbologia e nesta práxis desvendamos uma arcana ars de real
TRANSUBSTANCIAÇÃO, como auge dos quatro grande grupos míticos de Portugal — ou
luso-mitologemas — pesquisados e classificados por Gilbert Durand: o «Fundador
vindo de fora», a «Nostalgia do impossível», o «Salvador oculto» e a
«Transmutação dos actos», sendo este último, precisamente, em quanto remate e
síntese, exemplificado pela transubstanciação de rosas em ouro, e de ouro
em rosas (ou de pão em rosas), pela discípula do alquimista Arnaldo de Vilanova,
rainha Santa Isabel, iniciadora do Culto Paraclético (Durand 1986, 11 segs.),
com o incentivo e a dynamis dos Spirituali e dos
Fiéis-do-Amor. Depois disto — que nos reservam a História do Futuro e a Chave dos
Profetas, para além do que delas já decifrou (mas logo voltou a velar e a selar)
o P. António Vieira? Que Ilha Afortunada, do «morto que hoje é vivo», testemunhará a
transfiguração do país Desejado em país, enfim, Des-Encoberto? Portugal é — e tem sido — um país por enquanto
oculto… Poquê o estranho e esfíngico silêncio que pesa sobre os mais
significativos e fecundos factos mistéricos da portugalidade? Lima de Freitas
alinha alguns exemplos (quase se diriam escandalosos): René Guénon, que tanto
escreveu sobre as correntes esotéricas, dedicou um livro inteiro ao Rei do
Mundo sem nunca mencionar os cavaleiros de Cristo e a demanda do Preste
João; Julius Evola consagrou várias páginas ao Preste João na sua obra O
Mistério do Graal e não profere uma única palavra sobre a demanda da
cavalaria portuguesa; Mircea Eliade (que inclusivamente viveu em Lisboa durante
algum tempo), ao escrever sobre os mitos principais aborda o tema da demanda do
Graal e esquece por completo a demanda do Preste João; desenvolve o mito do
Imperador desaparecido que voltará um dia e nem toca em D. Sebastião; aborda os
movimentos milenaristas da Idade Média e nem sequer cita o mitologema do V
Império… (Freitas 1986, 119-123). Que intencionalidade se esconde por trás deste
silêncio ? «Tudo se passa como se Portugal fosse invisível, escapando
permanentemente à atenção dos pensadores e pesquisadores europeus. Mais do que o
fruto de um acaso ou a consequência de circunstâncias políticas recentes,
queremos ver em tudo isso um sinal» (Freitas 1986, 123). Todavia, pior que o
silêncio que paira sobre os mistérios da portugalidade é o corrosivo expediente
do sarcasmo, a que recorre um Umberto Eco quando se refere, por exemplo, a «um
texto curioso sobre Cristóvão Colombo [que] analisa a sua assinatura e descobre
nela inclusivamente uma referência às pirâmides». Prossegue, jocoso, afirmando
que a intenção de Colombo «era reconstruir o Templo de Jerusalém, dado que era
grão-mestre dos Templários no exílio. Como era notoriamente um judeu português e
portanto especialista de Cabala, é com evocações talismânicas que acalmou as
tempestades e dominou o escorbuto» (Eco 1990, 238)(1) . Mergulhado Portugal neste Caos Adverso, que pergunta
espera o Ser da gesta portuguesa perante a acumulação de respostas
que nos inundam e não sabemos interpretar — ou nem sequer, tantas vezes,
reconhecer? Entre as chrysopeias do nosso rei D. Afonso V e a passarola
voadora do P. Bartolomeu de Gusmão, o misterioso engenho mito-luso conduz-nos,
não raro, às mais irritantes perguntas sem resposta — ou respostas sem
pergunta… Finalizemos com a referência a um facto desconcertante: teremos
sido pioneiros no fabrico de robôs animatronics ? A Gazeta em Que Se
Relatam as Novas Todas Que Houve nesta Corte, mensário que iniciou o
jornalismo regular português e cujo primeiro número saiu em Novembro de 1641, dá
conta da seguinte notícia no seu número de Janeiro de 1642 (pode ser consultado
na secção de «Reservados» da Biblioteca Nacional de Portugal, em
Lisboa): «Véspera de Reis presentou António Pessoa Campo ao príncipe, que
Deus guarde, um cavalo feito por ele, com tal artifício que não somente no
aspecto engana a quem o vê, mas também nas acções: relincha, endireita as
orelhas, obedece ao freio, escarva, bate, dá com as mãos nas silhas, põe a anca
no chão, atira coices, dá corcovos, faz chaças e curvetas; salta, galopa, toma a
andadura, trota, corre, passeia, volta a uma e outra mão, e faz tudo quanto a
natureza ensinou a um ginete. A cor é endrina, a sela estardiota de veludo verde
bordada de oiro com pedras preciosas». [O texto é tal e qual, só actualizei a
ortografia]. Pena que o noticiante não tenha acrescentado mais pormenores. Onde
é que o príncipe D. Teodósio o terá guardado, a tão extraordinário artefacto?
Quem se terá apropriado dele, quando o príncipe morreu prematuramente aos 19
anos? Que outros mistérios nos
reservará o Mistério de Portugal? OBRAS CITADAS: ALVES, Adalberto, As Sandálias do Mestre: Em Torno do
Sufismo de Ibn Qasî nos Começos de Portugal, Hugin Editores, Lisboa
2001. ANES, José Manuel, Re-Criações Herméticas, Hugin Editores,
Lisboa 1996. BRUNO, Sampaio, Os Cavaleiros do Amor, compil. e introd.
Joel Serrão, Guimarães Editores, Lisboa 1960. CALVET, Carlos, Mitogeometria de Portugal, Hugin Editores,
Lisboa 2001. CARDOSO, Paulo, Frei Luís de Sousa: Uma Leitura Esotérica,
Perspectivas & Realidades, Lisboa 1978. COSTA, Dalila Pereira da, A Nau e o Graal, Lello &
Irmãos Editores, Porto 1978. DAEHNHARDT, Rainer, Páginas Secretas da História de
Portugal, Publicações Quipu, Lisboa 2000. DURAND, Gilbert, «O Imaginário Português e as Aspirações do
Ocidente Cavaleiresco», in Cavalaria Espiritual e Conquista do Mundo, org.
Yvette K. Centeno, Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa
1986. ECO, Umberto, O Pêndulo de Foucault [Il Pendolo di
Foucault, 1988], Círculo de Leitores, Lisboa 1990. FREITAS, Lima de, «Considerações Portuguesas em torno do
Preste João», in Cavalaria Espiritual e Conquista do Mundo, org. Yvette K.
Centeno, Instituto Nacional de Investigação Científica, Lisboa
1986. HAPEL, Bruno, L’Ordre du Temple: Les Textes Fondateurs, Guy
Trédaniel Éditeur, Paris 1991. LOUÇÃO, Paulo Alexandre, Os Templários na Formação de
Portugal, Ésquilo Multimédia, Lisboa 1999. PESSOA, Fernando, Obra Poética e em Prosa, org. António
Quadros e Dalila Pereira da Costa, volume I, Lello & Irmão Editores, Porto
1986. PLATÃO, Timeu ou a Natureza e Crítias ou a Atlântida, trad.
Norberto de Paula Lima, Hemus Editora, São Paulo s/d. VITERBO, Frei Joaquim de Santa Rosa, «Tempreiros ou
Templeiros», in Cadernos da Tradição: O Templo e a Ordem Templária de Portugal,
director Manuel J. Gandra, Ano I, n.º 1, Verão de 2000. Triângulo da água (Câncer, Escorpião e Peixes )
Triângulo do fogo (Áries , Leão e Sagitário )
Conferência proferida no IV Colóquio Internacional "Discursos e
Práticas Alquímicas", organizado pelo Instituto São Tomás de Aquino (ISTA) e
pelo Temas
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