ENSINAMENTOS DE UM INICIADO

MAX HEINDEL

 

 

CAPÍTULO XX

NOSSO TRABALHO NO MUNDO

Parte I - (Publicação - Maio, 1912)

 

Ultimamente chegamos à conclusão que o trabalho da Fraternidade Rosacruz não é nosso trabalho particular; é o trabalho dos Irmãos Maiores e de todos os membros da Fraternidade na execução do qual encontramos uma excelente oportunidade para o desenvolvimento da alma. Não temos o direito de usurpá-lo para nós, como não o temos de privar os membros do alimento material. Devemos dar a todos a oportunidade de colaborar neste trabalho, seja física, mental ou financeiramente de acordo com tempo, talento, aptidão e condições de cada um. Também entendemos que, a não ser que o façamos, o trabalho ficará incompleto e nós seremos servos improdutivos dos Irmãos Maiores. A carga é maior do que podemos suportar e, para prosperar, a Grande Obra necessita de muitos colaboradores. Portanto, nesta lição darei um histórico do que foi realizado até hoje para que os estudantes tenham uma real perspectiva do que deverá ser o futuro trabalho. Será necessário abusar do pronome "Eu", e os estudantes vão bondosamente ser pacientes comigo neste caso. Ninguém menos aprecia introduzir um elemento pessoal do que o autor, mas no caso presente parece ser inevitável.

Temos deixado claro em nossa literatura, como um ensinamento axiomático, que cada objeto no universo visível é a corporificação de um pensamento invisível pré-existente. Fulton construiu um barco a vapor e Bell um telefone; primeiro em pensamento antes que esses inventos fossem construídos em madeira e metal. Do mesmo modo, um escritor planeja e mentaliza um livro antes de escrevê-lo. Uma Ordem de Mistérios também deve estruturar sua filosofia espiritual para satisfazer as necessidades das pessoas que foi encarregada de servir. Esse trabalho pode levar séculos. Como as investigações científicas são realizadas no isolamento dos laboratórios, e como suas conclusões experimentais, que pretendem promover o avanço intelectual da raça, não são divulgadas até estarem devidamente comprovadas, assim também os ensinamentos espirituais destinados a incrementar o desenvolvimento da alma entre uma classe de pessoas, não são ministrados à maioria até que fique demonstrada sua eficácia com aquela minoria.

Como as invenções, também as teorias ou projetos passam pelo estágio experimental e algumas vezes são recusados, a menos que sejam convenientes para uso geral. Também um ensinamento espiritual deve atingir um ponto de perfeição para que possa ser divulgado no trabalho do mundo, pois, de outro modo, morre. Assim tem sido com os Ensinamentos da Sabedoria Ocidental formulados pela Ordem Rosacruz para harmonizarem-se com a mente extremamente intelectual da Europa e da América. Nosso venerado Fundador e os doze Irmãos Maiores, que ele escolheu séculos atrás para ajudá-lo na obra, provavelmente fizeram um estudo retrospectivo da linha de pensamento da nossa era, abrangendo talvez o estudo de milênios anteriores. Dessa forma, estavam aptos a obter uma concepção apurada da direção que provavelmente tomariam as mentes das gerações futuras e determinar suas necessidades espirituais. Quaisquer que fossem os seus métodos, suas conclusões foram corretas quando concluíram que o "orgulho intelectual, a intolerância e a impaciência diante das limitações e restrições" seriam os pecados dominantes em nossos dias. Formularam sua filosofia de modo a satisfazer o coração, ao mesmo tempo que apelaram para o intelecto ensinando o homem como vencer essas limitações através do domínio próprio. Recebemos milhares de cartas de apreço de pessoas de todo o mundo, das altas esferas às camadas mais baixas, que atestam o desejo ardente da alma e a satisfação que todos encontraram nestes ensinamentos. Mas, à medida que o tempo passar, daqui a cinqüenta anos, um século ou dois, quando as descobertas científicas confirmarem muitas das afirmações contidas no "Conceito Rosacruz do Cosmos"; quando as inteligências se tornarem ainda mais abertas, os Ensinamentos Rosacruzes darão satisfação espiritual a milhões de espíritos esclarecidos.

Neste caso, achamos fundamentais os cuidados que os Irmãos Maiores devem ter antes de confiar tão importante mensagem a qualquer um, principalmente porque tais ensinamentos só serão divulgados em épocas determinadas. Como a semente das plantas é plantada no começo do ciclo anual, também uma semente filosófica, como os Ensinamentos da Rosacruz, deve ser plantada e o livro. publicado na primeira década do século quando se inicia um novo ciclo, ou perde-se a oportunidade até o começo de outro. Em 1905 um mensageiro foi considerado inapto. Então, os Irmãos Maiores voltaram-se para mim e confiaram-me os ensinamentos depois de me testarem em 1908. O livro "O Conceito Rosacruz do Cosmos" foi publicado em Novembro de 1909, pouco mais de um ano antes do fim da primeira década. Amigos publicaram o manuscrito original e fizeram um trabalho esplêndido, mas é claro que eu precisava revisá-lo antes de entregá-lo à impressora. Depois li as provas da impressora, corrigi-as e devolvi-as. Tornei a lê-Ias depois que os erros foram corrigidos, li-as novamente depois de paginadas, dei instruções aos gravadores sobre os desenhos, e ao impressor como distribuí-la no livro, etc. Eu levantava-me às seis horas e trabalhava até à meia-noite, uma, duas ou três horas da madrugada, durante semanas, por entre confusões intermináveis com comerciantes e o ruído de Chicago em meus ouvidos, muitas vezes chegando ao limite de minha resistência nervosa. Ainda assim consegui concentrar-me e escrevi muitas questões novas no "Conceito". Eu teria sucumbido não fosse o apoio dos Irmãos. Era obra deles e eles ajudaram-me. Tudo o que eu devia fazer era trabalhar até o limite de minhas forças e capacidade, deixando o resto por conta deles. Contudo, eu era quase uma ruína quando essa tarefa acabou.

Talvez agora todos entendam a minha atitude no que se refere ao "Conceito Rosacruz do Cosmos". Mais do que ninguém, permaneço extasiado diante de seus maravilhosos ensinamentos, e posso fazê-lo sem falsa modéstia porque o livro não é meu - ele pertence à humanidade. Inclusive nem parece que fui eu que o escrevi. Sinto-me absolutamente impessoal no assunto. Minha tarefa é cuidar que seja publicado corretamente, e os direitos autorais sirvam simplesmente para protegê-lo contra deturpações. Mas logo que seja possível encontrar depositários responsáveis e competentes, a Fraternidade Rosacruz será incorporada e todos os meus direitos autorais passarão para eles,

juntamente com tudo mais que me pertença, pois faz parte do acordo com os Irmãos que qualquer lucro resultante da obra, a ela deve reverter. Aceitei essa condição voluntariamente, pois nem eu nem Mrs. Heindel preocupamo-nos com dinheiro, a não ser o necessário para levar adiante esse trabalho. A abençoada missão é para nós a melhor recompensa, mais preciosa do que qualquer dádiva material.

Entre algumas tolices publicadas sobre a Ordem Rosacruz, existe uma que menciona uma grande verdade: ela anseia curar os doentes. Antigas ordens religiosas procuravam o desenvolvimento espiritual flagelando o corpo, mas os Rosacruzes demonstram o maior zelo por esse instrumento. Há duas razões para sua atividade de curar. Como todos os outros zelosos seguidores de Cristo, eles esperam ansiosamente pelo "dia do Senhor". Sabem que o abuso da força sexual, inspirado pelos espíritos de Lúcifer, provoca e é responsável por doenças e debilidades, e que um corpo são é indispensável para a manifestação de uma mente sã. Por isso, eles esforçam-se por curar o corpo físico para que este possa expressar uma mente sadia e um amor puro em lugar de um amor pervertido. A concepção sob tais condições apressa o Reino de Cristo, produzindo corpos cada vez mais puros para substituir "a carne e sangue que não podem herdar o Reino" por serem fisicamente incapazes.

Cristo deixou dois mandamentos para seus seguidores: "Pregar o Evangelho" (da próxima Era) e "Curar os Enfermos". Um é tão obrigatório quanto o outro e, pelas razões já apresentadas, igualmente necessários. Para cumprir o segundo mandamento, os Irmãos Maiores desenvolveram um sistema de cura que combina os melhores pontos das diversas escolas de hoje com um método de diagnose e tratamento tão certo quanto simples. Assim foi dado um grande passo para elevar a ação de curar, das areias da experiência às rochas do conhecimento exato.

Na noite de 9 de Abril de 1910, quando a lua nova transitava por Aries, meu Mestre apareceu em meu quarto e disse que uma nova década (ciclo) havia começado naquela noite. Na noite anterior, o meu trabalho com o recém formado Centro de Fraternidade de Los Angeles havia terminado. Eu viajara e realizara conferências seis noites por semana, além de algumas tardes. Depois da minha experiência em Chicago na época da edição, adoeci e afastei-me do trabalho em público para me recuperar. Eu sabia que era muito perigoso abandonar conscientemente o corpo quando doente, pois o éter está muitíssimo atenuado e o cordão prateado pode romper-se com facilidade. A morte, sob tais condições, causaria os mesmos sofrimentos que o suicídio. Por isso, previne-se sempre o Auxiliar Invisível para ficar em seu corpo quando este está enfermo. Mas, por solicitação do meu Mestre, eu estava pronto para o vôo da alma até o Templo, e alguém ficou incumbido de cuidar do meu corpo enfermo.

 

CAPÍTULO XXI

NOSSO TRABALHO NO MUNDO

Parte II

Como foi exposto anteriormente em nossa literatura, há nove graus dos Mistérios Menores - em qualquer escola - e a Ordem Rosacruz não é exceção. O primeiro deles corresponde ao Período de Saturno e os exercícios correspondentes são realizados no dia de Saturno, aos sábados à meia-noite. O segundo grau corresponde ao Período Solar, e este rito específico é celebrado aos domingos. O terceiro grau corresponde ao Período Lunar, e é comemorado às segundas-feiras à meia noite; e assim sucessivamente com os restantes sete graus. Cada um corresponde a um Período e tem, por isso, o dia apropriado para a sua celebração. O oitavo grau é celebrado nas noites de lua nova e lua cheia, e o nono grau nos solstícios do verão e do inverno.

Quando um discípulo se torna um irmão ou irmã leiga, ele ou ela são introduzidos ao ritual celebrado nas noites de Sábado. A Iniciação seguinte faculta-os assistir os serviços do Templo, à meia noite dos Domingos, e assim por diante. Note-se que, embora todos os irmãos e irmãs leigas tenham livre acesso ao Templo nos seus corpos espirituais durante todos os dias, eles são proibidos de entrar nos serviços da meia-noite nos graus que ainda não tenham alcançado. Não há um guarda visível que permaneça à porta exigindo a palavra-passe para quem desejar entrar, mas há um muro ao redor do Templo, invisível mas impenetrável para aqueles que ainda não receberam o "Abre-te Sésamo". Cada noite esta muralha é constituída de modo diferente, por isso se alguém, por engano ou por esquecimento, quiser entrar no Templo quando os exercícios que aí se celebram estão acima de seu grau, ele aprenderá que é possível bater a cabeça contra a muralha espiritual, e esta experiência não é nada agradável.

Como já foi dito, o oitavo grau oficia-se nas noites de lua nova e lua cheia, e os que ainda não atingiram esse estágio são excluídos do serviço da meia-noite, e o autor foi um deles. Esses graus não se podem alcançar com dinheiro, mas exigem um desenvolvimento de espiritualidade muito além do que possuo atualmente, um estágio que não alcançarei senão depois de muitas outras vidas, não obstante o meu atual esforço e aspiração. Portanto, o leitor entenderá que na noite de lua nova em Aries em 1910, quando o Mestre veio me buscar, não foi para levar-me àquela exaltada reunião do oitavo grau, mas a outra sessão de natureza diferente. Além disso, ainda que aquela reunião tenha ocorrido à noite na Califórnia, o horário sendo diferente na Europa, os exercícios da lua nova foram celebrados na Alemanha algumas horas antes. Por isso, quando cheguei ao Templo com o meu Mestre, o Sol já estava alto nos céus da Alemanha.

Depois de entrarmos no Templo, passei algum tempo numa conversa a sós com o Mestre e, então, ele fez um esboço da missão da Fraternidade, tal como os Irmãos queriam que ela fosse levada adiante. A nota-chave de tudo deveria ser, se possível, evitar uma organização ou pelo menos torná-la tão livre quanto pudesse. Já foi dito que não importa se as intenções são boas no começo, pois, tão logo sejam criadas posição e poder que possam gratificar a vaidade dos homens, a tentação torna-se muito grande para a maioria. E, à medida que o livre arbítrio dos membros é conspurgado, frustra-se a finalidade da Ordem Rosacruz que é estimular a individualidade e a auto-confiança. Leis e estatutos são limitações, por isso, deveria haver o menor número possível deles. O Mestre até pensou que seria possível passar sem eles.

Foi de acordo com essa política que fiz imprimir em nosso papel timbrado, "Uma ASSOCIAÇAO Internacional de Cristãos Místicos", pois há uma grande diferença entre uma associação, que é inteiramente de voluntários, e uma organização que vincula os membros a votos, promessas, etc. Os que tomaram o compromisso como probacionistas na Fraternidade Rosacruz sabem que esse Compromisso é uma promessa a eles próprios e não à Ordem Rosacruz. O mesmo cuidado para assegurar o máximo da liberdade individual evidencia-se em todas as etapas da Escola de Mistérios Ocidental. Nós não temos Mestres; eles são nossos amigos e nossos professores, e sob nenhuma condição exigem obediência a alguma ordem, nem nos impelem a fazer isto ou aquilo. Quando muito nos aconselham, deixando-nos livres para a escolha.

Posso dizer que esta política de não organizar já está sendo adotada nos centros de estudos em Columbus, Ohio, Seattle, Washington, e Los Angeles. Desde então, tenho ido mais além nessa diretriz, tentando divulgar os ensinamentos através de uma Sede Mundial em vez de formar novos centros em diversas cidades. Em alguns lugares, grupos de estudantes desejaram reunir-se para estudos e elevação espiritual. Com esse propósito foi-lhes dada toda assistência possível, mas como já foi dito, não me empenho em formar centros de estudos, mas deixo os estudantes agirem para sentirem-se estimulados.

O novo trabalho de curar, sobre o qual falarei agora, precisava de uma sede permanente. Como vivemos num mundo concreto, sob condições materiais, parece ser necessário que a sede forme uma sociedade sob as leis do país em que vive, para que o que pertence à obra possa ficar disponível para o uso da humanidade depois que os líderes atuais se tenham desprendido da vida física. Até aqui não pudemos evitar as rígidas e firmes condições de organização na sede, mas a associação sem restrições deve permanecer livre para que possa alcançar maior crescimento espiritual e vida mais longa. No entanto, é triste considerar que, embora sejam essas as nossas intenções, chegará o dia em que a Fraternidade Rosacruz terá o mesmo destino de todos os outros movimentos: ficará atada por regras, e a usurpação de poder fará com que ela se cristalize e desintegre. Mas é um consolo saber que de suas ruínas surgirá algo maior e melhor, como ela surgiu de outras estruturas que já tiveram sua utilidade e agora estão em vias de extinção.

Depois desta entrevista, entramos no Templo onde os doze Irmãos estavam presentes. Tudo estava arrumado diferentemente do que eu tinha visto antes, mas, por falta de espaço, não posso dar uma descrição mais detalhada do que lá havia. Mencionarei somente três esferas suspensas uma sobre a outra no centro do Templo; a esfera do meio estava na metade da altura entre o piso e o teto e era a maior delas, as outras duas estavam suspensas uma acima, outra abaixo dela.

As várias formas de visão, além da visão física, são: a etérica ou raio-X; a visão da cor que nos abre o Mundo do Desejo; a visão tonal, que revela a Região do Pensamento Concreto, como está plenamente explicado no livro "Os Mistérios Rosacruzes". Meu desenvolvimento desta última fase da visão espiritual tinha sido muito fraco até o momento acima mencionado, porque é um fato que quanto melhor for a nossa saúde, tanto mais apegados estamos ao mundo físico e menos capazes de entrar em contato com as regiões espirituais. Pessoas que dizem: "Não estive doente um único dia em minha vida", revelam estar perfeitamente sintonizadas com o mundo físico e menos capazes de contatar os reinos espirituais.

Esse foi o meu caso até o ano 1905. Sofri dores atrozes durante toda a vida, conseqüência de uma cirurgia na perna esquerda realizada na minha infância. A ferida não cicatrizava e só depois que eu deixei de comer carne é que fiquei curado e a dor desapareceu. Minha resistência e paciência foram grandes durante todos esses anos e nunca demonstrei as dores por que passava. Mas, fora isso, gozava fisicamente de perfeita, saúde. É interessante notar também que quando eu sofria qualquer acidente e me cortava, o sangue fluis e não coagulava e, em conseqüência, eu perdia muito sangue. No entanto, depois de dois anos de uma dieta pura e equilibrada, quando acidentalmente fiquei sem uma unha inteira, perdi só umas poucas gotas de sangue e pude escrever à máquina na mesma tarde sem qualquer infecção e uma nova unha cresceu.

A edificação da parte espiritual da nossa natureza produz, muitas vezes, distúrbios em nosso corpo físico. Este fica muito mais sensível às condições do ambiente e, portanto, o resultado pode ser um esgotamento. Para mim este esgotamento foi total, porque a resistência antes mencionada e que me conservou de pé por fineses, quando eu deveria ter descansado, levou-me às portas da morte.

A morte é a permanente ruptura do laço entre os corpos físico e o espiritual. Os que chegam perto dela aproximam-se das condições que existem quando está para ocorrer o desligamento. Goethe, o grande poeta alemão, recebeu sua primeira Iniciação quando seu corpo se achava debilitado à beira da morte. Eu não havia progredido tanto, mas meus estudos, aspirações e um exercício praticado por muito tempo, e que eu achava naquela época que foi inventado por mim, mas que agora sei que já vinha do passado, contribuíram para que eu, durante aquela doença anterior, pudesse abandonar o meu corpo por um curto espaço de tempo e depois regressar. Não sei como fazia isso, e nem podia fazê-lo voluntariamente. Contudo, isso não vem ao caso. O ponto que quero ressaltar é que a perda de uma saúde perfeita é necessária antes de conseguirmos equilíbrio no mundo espiritual, e quanto mais forte e vigoroso o instrumento, tanto mais drástico será o método para debilitá-lo. Então, vêm anos de condições de saúde oscilantes até que possamos ajustá-las de maneira a manter a saúde no mundo físico, ao mesmo tempo que adquirimos capacidade de funcionar também nos reinos superiores.

Assim aconteceu comigo: um trabalho exaustivo, tanto físico como mental, contínuo até hoje, tem deixado o meu instrumento físico longe de um estado saudável. Amigos alertam-me e eu tenho tentado considerar suas admoestações, mas o trabalho tem que ser executado, e até que chegue ajuda, sou obrigado a continuar apesar da saúde. Mrs. Heindel acompanha-me nisto e em tudo. No entanto; além dessas precárias condições, alcancei uma capacidade crescente de funcionar no mundo espiritual. Como já afirmei, quando da época dos acontecimentos aqui narrados, minha visão tonal e a capacidade de funcionar na Região do Pensamento Concreto eram medianas e principalmente limitadas às subdivisões inferiores. Uma pequena ajuda dos Irmãos naquela noite permitiu-me entrar em contato com a quarta região onde se encontram os arquétipos. Lá recebi os ensinamentos e a compreensão do que é considerado o mais alto ideal e missão da Fraternidade Rosacruz.

Vi nossa sede e uma multidão de pessoas vindas de todas as partes do mundo para receber os ensinamentos. Vi-os sair dali para levar lenitivo para os aflitos próximas e distantes. Ao passo que neste mundo é necessário investigar para sabermos alguma coisa, lá, a voz de cada arquétipo traz consigo, ao mesmo tempo que impressiona a consciência espiritual, o conhecimento do que esse arquétipo representa. Portanto, nessa noite recebi um entendimento muito além do que minhas palavras possam expressar, pois o mundo em que vivemos é regido pelo referencial do tempo, enquanto que no reino superior dos arquétipos tudo é um eterno Agora. Esses arquétipos não revelam suas histórias como esta é narrada aqui, mas produzem sobre a pessoa uma concepção instantânea de toda a idéia, muito mais clara do que seria transmitida em palavras pelo narrador. Não ousei falar sobre esses fatos na ocasião em que eles ocorreram, mas no próximo capítulo irei esforçar-me para fazer-lhes uma descrição deles.

 

CAPÍTULO XXII

NOSSO TRABALHO NO MUNDO

Parte III

Como devem estar lembrados pelos nossos ensinamentos, a Região do Pensamento Concreto é o reino do som, onde a harmonia das esferas, a música celestial, penetra tudo que existe, da mesma forma que a atmosfera da Terra circunda e envolve tudo que é terrestre. Pode-se dizer que nessa região tudo está envolto e impregnado de música. Vive e cresce pela música. Lá, a PALAVRA de Deus ressoa e forma todos os vários modelos que depois se cristalizam nas coisas que contemplamos no mundo terrestre.

No piano, cinco teclas pretas e sete brancas formam a oitava. Além dos sete globos nos quais evoluímos durante um Dia de Manifestação, existem cinco globos escuros que atravessamos durante as Noites Cósmicas. Em cada ciclo de vida, o Ego retira-se por um tempo para o mais denso destes cinco, o Caos, o mundo sem forma onde nada permanece a não ser os centros de força conhecidos como átomos-semente. No começo de um novo ciclo de vida, o Ego desce novamente até a Região do Pensamento Concreto, onde a "música das esferas" imediatamente faz vibrar os átomos-semente.

Há sete esferas: os planetas de nosso sistema solar. Cada uma tem sua nota-chave e emite um som diferente de todos os outros. Um ou outro, dentre eles, vibra em sincronia particular com o átomo-semente do Ego que está em busca de incorporação. Então, esse planeta corresponde à "tônica" da escala musical e, embora os tons de todos os planetas sejam necessários para construir um organismo completo, cada um é modificado para adaptar-se ao impacto básico dado pelo planeta mais harmonioso, que é, portanto, o dirigente dessa vida, sua Estrela Guia. Como na música terrestre, também na celestial há harmonias e dissonâncias, e todos influenciam o átomo-semente e ajudam a construir o arquétipo. Assim se formam as linhas vibratórias de força que mais tarde atraem e organizam partículas físicas, como acontece com os esporos ou a areia que formam figuras geométricas à vibração de um arco de violino sobre um prato de latão.

Mais tarde, o corpo denso é formado dentro desta orientação arquetípica de vibrações, e assim ele expressa fielmente a harmonia das esferas como era tocada durante o período de construção. Este período, contudo, é muito mais longo do que o período real da gestação, e varia de acordo com a complexidade da estrutura requerida pela vida que busca manifestação física. Tampouco o processo de construção do arquétipo é contínuo, pois, sob os aspectos dos planetas que emitem notas, às quais as forças vibratórias do átomo-semente não podem responder, ele simplesmente sussurra as que já aprendeu. Assim engajado, espera por um novo som que possa usar na construção de organismos que deseja para expressar-se.

Sabendo que o organismo terrestre, que cada um de nós habita, é formado segundo linhas vibratórias produzidas pela música das esferas, podemos entender que as dissonâncias, que se manifestam como enfermidades, são produzidas primeiramente por desarmonia espiritual interna. Além disso, é evidente que se pudermos obter conhecimentos precisos referentes à causa direta da desarmonia e saná-la, a manifestação física da doença logo desaparecerá. É esta a informação dada pelo horóscopo de uma pessoa, pois nele cada planeta em sua casa e signo expressam harmonia ou discórdia, saúde ou doença. Portanto, todos os métodos de cura são apropriados apenas na proporção em que levam em conta as harmonias e discordâncias estelares manifestadas na roda da vida - o horóscopo.

Enquanto as leis da natureza que governam os reinos inferiores são todo-poderosas em circunstâncias normais, há leis superiores relativas aos reinos espirituais que, em determinadas circunstâncias, podem suplantar as anteriores. Por exemplo, o perdão dos pecados quando o reconhecemos e o verdadeiro arrependimento podem suplantar alei que exige olho por olho e dente por dente. Quando Cristo andou por esta Terra e curou os enfermos, Ele, sendo o Senhor do Sol, incorporou em Si a síntese das vibrações estelares, como a oitava incorpora todos os tons da escala, e Ele pôde, portanto, emitir de Si a verdadeira influência planetária corretiva requerida em cada caso. Sentia a desarmonia, sabendo imediatamente como equilibrá-la graças ao Seu elevado desenvolvimento. Não necessitava de preparação adicional, mas obtinha resultados imediatos substituindo por harmonia, a dissonância planetária que era a causa da doença que Ele atendia. Apenas num único caso Ele recorreu à leis superiores e disse: "Levanta-te, teus pecados estão perdoados".

Do mesmo modo, os métodos empregados pelo Serviço e Auxílio de Cura Rosacruz, dependem de um conhecimento das dissonâncias planetárias que causam as doenças e das influências corretivas que poderão curá-las. Isto tem sido suficiente em todas as solicitações que temos recebido até hoje. Contudo, existe um método mais poderoso e acessível que, sob uma lei superior, pode acelerar a recuperação em casos de longa duração. Em determinadas circunstâncias, quando existe o reconhecimento sincero e profundo do erro, podemos até eliminar os efeitos da doença antes que o destino, frio e inflexível, sentencie diferentemente.

Quando notamos com a visão espiritual algum enfermo, esteja seu corpo denso debilitado ou não, torna-se claro para o vidente que os veículos mais sutis estão muito mais frágeis que quando a pessoa estava sã, porque eles não transmitem para o corpo denso a dosagem necessária de vitalidade. Conseqüentemente, esse instrumento torna-se mais ou menos debilitado. No entanto, qualquer que seja o estado de abatimento do resto do corpo denso, determinados centros, frágeis em termos de saúde e em grau variável segundo o desenvolvimento espiritual da pessoa, ficam obstruídos em grau crescente de acordo com a gravidade da doença. Isto acontece principalmente no centro principal entre as sobrancelhas. Aí está enclausurado o espírito, às vezes a tal ponto, que perde contato com o mundo exterior, e seu progresso está tão voltado para sua própria condição que somente a completa ruptura do corpo denso poderá libertá-lo. Isso pode ser um processo demorado. Neste decorrer do tempo, a desarmonia planetária, que causou a doença inicial, já poderá ter passado, mas o sofredor é incapaz de aproveitar essas condições de melhora. Em tais casos, é necessária uma efusão espiritual especialíssima para levar a mensagem à alma: "Teus pecados estão perdoados". Quando isso for ouvido, a pessoa poderá responder à ordem: "Toma tua cama e anda".

Ninguém da presente humanidade pode sequer comparar-se à estatura de Cristo, conseqüentemente, ninguém pode exercer Seus poderes em casos tão extremos. No entanto, a necessidade desse poder em ativa manifestação existe hoje tanto quanto há dois mil anos atrás. O espírito impregna tudo dentro e sobre nosso planeta, mas em diferentes dimensões. Tem maior afinidade por algumas substâncias do que por outras. Sendo uma emanação do Princípio de Cristo, é o Espírito Universal compondo o Mundo do Espírito de Vida que restaura a harmonia sintética do corpo.

Uma substância foi mostrada ao autor no Templo dos Rosacruzes na noite memorável já mencionada, com a qual o Espírito Universal se combinava e unia fácil e rapidamente, da mesma forma que o amoníaco o faz com a água. Dentro da grande esfera central, mencionada em lição anterior, havia um recipiente menor que continha vários pacotes repletos dessa substância. Quando os Irmãos se colocaram em certas posições e a harmonia de uma certa música havia preparado o ambiente, repentinamente os três globos começaram a brilhar nas três cores primárias, azul, amarelo e vermelho. Para a visão do autor ficou evidente, como durante a entoação das fórmulas mágicas, que o recipiente contendo os já mencionados pacotes se tornou luminoso com uma essência espiritual que antes não se encontrava lá. Alguns deles foram mais tarde usados pelos Irmãos com êxito instantâneo. As partículas cristalizadas, que envolviam os centros espirituais do paciente, dissiparam-se como por magia, e o doente despertou sentindo o restabelecimento da saúde e bem-estar físico.

Nota: - Os quatro artigos seguintes são de manuscritos de Max Heindel que não haviam sido ainda publicados anteriormente à sua morte. Apareceram depois na revista "Rays From the Rose Cross" e estão aqui reproduzidos.

 

CAPÍTULO XXIII - CONDENAÇÃO ETERNA E SALVAÇÃO

 

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