O RENASCIMENTO E A LEI DE CONSEQÜÊNCIA
Somente três teorias dignas de nota foram formuladas para resolver o enigma da vida e da morte:
No capítulo anterior apresentamos, até certo ponto, uma dessas três teorias - a do Renascimento - juntamente com sua companheira, a Lei de Conseqüência. Chegamos agora ao ponto em que convém comparar a teoria do Renascimento com as outras duas a fim de averiguar a relatividade de seus fundamentos na Natureza. Para o ocultista não pode haver dúvidas. Ele não diz que "crê" nela, salvo no sentido em que dizemos "crer" que o botão de uma flor se abre, ou que a água do rio corre, ou na execução de qualquer outro trabalho visível no mundo material que se processa continuamente diante de nossos olhos. Não dizemos que "cremos nessas coisas. Nós dizemos que "conhecemos", porque as vemos. Portanto, o cientista ocultista pode dizer "eu sei", com Respeito ao Renascimento, ã Lei de Conseqüência, e seus corolários. Ele vê o Ego, portanto pode seguir seu trajeto desde que deixa o corpo denso, ao morrer, até que reapareça na Terra em novo nascimento. Logo, não precisa crer'. Contudo, para satisfazer aos demais, convém examinarmos essas três teorias sobre a vida e a morte, a fim de chegarmos a uma conclusão inteligente.
Qualquer grande lei da natureza deve estar, necessariamente, em harmonia com todas as demais. Portanto, é muito útil ao investigador examinar as relações dessas teorias com as admitidas "leis conhecidas da natureza", observadas nesta parte do universo que nos é mais familiar. Para isso damos primeiramente, a seguir, as três teorias.
1 - Teoria Materialista: sustenta que a vida é uma viagem do berço ao túmulo; que a mente é o resultado de certas correlações da matéria; que o homem é a mais elevada inteligência do Cosmos, e que a sua inteligência perece quando o corpo desintegra-se, após a morte.
2 - Teoria Teológica: afirma que em cada nascimento uma alma recém-criada por Deus entra na arena da vida, passando pelas portas do nascimento, a esta existência visível; que ao fim de um curto período de vida no mundo material passa, através dos portais da morte, ao invisível além, de onde não volta mais; que sua felicidade ou desgraça ali é determinada para a toda eternidade pelas ações que tenha praticado durante o período infinitesimal que vai do nascimento â morte.
3 - Teoria do Renascimento: ensina que cada alma é uma parte integrante de Deus, contendo em si todas as potencialidades divinas, do mesmo modo que a semente contém a planta; que por meio de repetidas existências em corpos terrestres de qualidade gradualmente melhor, as possibilidades latentes convertem-se lentamente em poderes dinâmicos; que ninguém se perde neste processo, mas que toda a humanidade alcançará por fim a meta da perfeição e a religação com Deus.
A primeira destas teorias é monística. Procura explicar todos os fatos da existência como processos dentro do mundo material. As outras duas teorias são dualísticas, isto é, atribuem certos fatos e fases da existência a estados suprafísicos e invisíveis, se bem que difiram amplamente em outros pontos.
Comparando a teoria materialista com as leis conhecidas do Universo, notamos que tanto a continuidade da força como a da matéria estão bem determinadas, além de qualquer necessidade de elucidação. Sabemos também que força e matéria são inseparáveis no Mundo Físico. Isto é contrário â teoria materialista, para a qual a mente perece ao ocorrer a morte. Se nada pode ser destruído, também a mente não o poderá. Ademais, sabemos que a mente é superior à matéria, posto que modela a face tornando-a uma reflexão ou espelho da mente. Sabe-se que as partículas dos nossos corpos são continuamente trocadas e que, pelo menos uma vez em cada sete anos, todos os átomos do corpo são substituídos.
Se a teoria materialista fosse verdadeira a consciência também deveria sofrer uma completa mudança, não podendo conservar memória do passado, pelo que em qualquer tempo só poderíamos recordar os acontecimentos dos últimos sete anos. Mas bem sabemos que tal não acontece. Recordamos até os acontecimentos da nossa infância. Pessoas há que relatam incidentes dos mais triviais, esquecidos da consciência ordinária, recordados distintamente numa visão rápida e retrospectiva da vida quando estiveram a ponto de perecer afogadas. Experiências similares, em estado de transe, são também muito comuns. O materialismo não pode explicar essas fases de sub e supra-consciência. Simplesmente as ignora. Mas ignorar a existência desses fenômenos, quando a investigação científica moderna os têm comprovado fora de qualquer dúvida, é séria falha numa teoria que proclama poder resolver o maior problema da vida - a Vida em si mesma.
Podemos pois passar tranqüilamente da teoria materialista à teoria seguinte, visto ser aquela inadequada à solução do mistério da vida e da morte.
Uma das maiores objeções que se faz à doutrina teológica ortodoxa, tal como se apresenta, é sua completa e reconhecida impropriedade. Das miríades de almas que foram criadas e habitam este Globo desde o princípio da existência, mesmo que este princípio não vá além dos seis mil anos, é insignificante o número das que se salvariam: apenas "cento e quarenta e quatro mil"! As demais seriam torturadas para sempre! E assim o demônio teria sempre a melhor parte. De modo que até poderíamos dizer, como Buda: "Se Deus permite que tais misérias existam Ele não pode ser bom, e se Ele não tem o poder de impedi-las, não pode ser Deus".
Nada há na Natureza que se pareça a tal método: criar para em seguida destruir o que foi criado. Imagina-se que Deus deseja a salvação de TODOS, e que é contrário à destruição de qualquer um, tanto que para salvá-los "deu Seu Único Filho". Assim sendo, esse "glorioso plano de salvação" falha pela base.
Se um transatlântico, com duas mil almas a bordo enviasse u a mensagem telegráfica de que estava afundando, poder-se-ia considerar um "glorioso plano de salvação" enviar em seu socorro apenas um rápido barco a motor, capaz de salvar só duas ou três pessoas? Certamente que não! Pelo contrário, seria considerado um "plano de destruição" não providenciar meios adequados para salvar, pelo menos, a maioria dos passageiros em perigo.
O plano de salvação dos teólogos porem, é muitíssimo pior do que isso, uma vez que dois ou três para dois mil é uma proporção imensamente maior do que o plano teológico ortodoxo de salvar unicamente 144.000 dentre todas as miríades de almas criadas. Podemos pois, sem medo de errar, rejeitar esta teoria também, já que é inexata, porque é irrazoável. Se Deus é total sabedoria deve ter desenvolvido um plano mais eficaz. E assim Ele o fez. O que ficou dito é apenas teoria dos teólogos. Os ensinamentos da Bíblia, conforme veremos adiante, são muito diferentes.
Consideremos agora a doutrina do Renascimento, que postula um processo de lento desenvolvimento, efetuado persistentemente através de repetidos renascimentos e em formas de crescente eficiência. Por intermédio destas formas, tempo virá em que todos alcançarão o cume do esplendor espiritual, presentemente a nós inconcebível. Nada há nesta teoria que seja irrazoável ou difícil de aceitar. Olhando ao redor, vemos por toda a parte o esforço lento e perseverante, na Natureza, para atingir a perfeição. Não vemos nenhum processo súbito de criação ou mesmo de destruição, tal como postula o teólogo. Vemos, isto sim, "Evolução".
Evolução é "a história do progresso do Espírito no Tempo". Por toda a parte, observando os variados fenômenos do Universo, vemos que o caminho da evolução é uma espiral. Cada volta da espiral é um ciclo. Cada ciclo funde-se com o seguinte, e, como as espirais são contínuas, cada ciclo é o produto melhorado do precedente e o criador de estados sucessivos de maior desenvolvimento.
A linha reta não é mais que a extensão de um ponto. Tem apenas uma dimensão no espaço. A teoria materialista e a teológica seriam semelhantes a essa linha. O materialista diz que a linha da vida parte do nascimento e, para ser coerente, termina na hora da morte. O teólogo começa a sua linha com a criação da alma pouco antes do nascimento. Depois da morte a alma vive indefinidamente, mas seu destino foi determinado de modo irremediável pelos próprios atos no curto período de uns tantos anos. Não pode voltar atrás para corrigir os erros. A linha, seguindo sempre reta, implica numa experiência irrisória e em nenhuma elevação da alma após a morte.
O progresso natural não segue uma linha reta, conforme está implícito nessas duas teorias. Nem mesmo segue um caminho circular, o que significaria uma infinidade de voltas nas mesmas experiências e o emprego de apenas duas dimensões do espaço. Todas as coisas se movem em ciclos progressivos para que possam aproveitar plenamente todas as oportunidades de progresso oferecidos pelo universo de três dimensões. E pois necessário à vida evoluinte tomar o caminho de três dimensões - a espiral que segue continuamente para a frente e para o alto.
Quer na modesta plantinha do nosso jardim, quer nas gigantescas sequóias da Califórnia, com troncos de trinta pés de diâmetro, sempre notamos a mesma coisa! - cada ramo, talo ou folha brota segundo uma espiral simples ou dupla, ou em pares opostos que se equilibram mutuamente, análogos ao fluxo e refluxo, ao dia e à noite, à vida e à morte, e a outras atividades alternativas da Natureza.
Examinando a abóbada celeste, e observando as imensas nebulosas ígneas ou os caminhos dos sistemas solares, por toda a parte vemos a espiral. Na primavera a Terra sacode seu manto branco e desperta do período de descanso - seu sono invernal. Todas as atividades visam produzir vida nova por toda a parte. O tempo passa. O trigo e as uvas amadurecem e são colhidos. Outra vez o ativo verão se desvanece no silêncio e na inatividade do inverno, e novamente o manto branco da neve envolve a Terra. Seu sono, porém, não é eterno: despertará de novo ao canto da nova primavera, que marcará para ela um pouco mais de progresso no caminho do tempo.
Assim acontece com o Sol. Levanta-se todas as manhãs, mas a cada dia progride em sua jornada anual.
Por toda a parte encontra-se a espiral: para a frente, para o alto, para sempre!
Será possível que esta lei, tão universal em todos os outros remos, não o seja também na vida do homem? Deverá a Terra despertar a cada ano do seu sono invernal, deverão a árvore e a flor viverem de novo e somente o homem morrer? Não é possível! A mesma lei que desperta a vida na planta para que cresça outra vez, traz o homem de volta para adquirir novas experiências e avançar ainda mais para a meta da perfeição. Portanto a teoria do Renascimento, que ensina a necessidade de repetidas incorporações em veículos de crescente perfeição, está em perfeito acordo com a evolução e com os fenômenos da Natureza, o que não ocorre com as outras duas teorias.
Considerando a vida sob o ponto de vista ético, podemos inferir que a Lei do Renascimento e sua companheira, a Lei de Conseqüência, juntas constituem a única teoria que satisfaz o senso de justiça e está em harmonia com os fatos da vida, conforme os vemos ao nosso redor.
Não é fácil para a mente lógica compreender como um Deus «justo e amoroso" pode exigir as mesmas virtudes dos milhares de seres que Ele mesmo "colocou a seu bel-prazer sob diferentes condições", aparentemente sem regra nem plano algum, mas tão-só "quer queira quer não" e de acordo com Seu capricho. Um vive luxuosamente, outro vive em penúria total. Um tem boa educação moral e uma atmosfera de elevados ideais; outro é posto num ambiente mesquinho e ensinado a mentir e a roubar, de modo que quanto melhor o faça mais êxito pode ter! E justo exigir o mesmo de ambos? E certo recompensar um por viver uma boa vida, quando foi colocado num ambiente onde é sumamente difícil desencaminhar-se, ou castigar a outro por viver tão dificilmente que nem pode ter uma idéia do que constitui a verdadeira moralidade? Seguramente não! Não é mais lógico admitir que se tenha interpretado mal a Bíblia do que atribuir a Deus tão monstruoso plano e método de procedimento?
E inútil dizer que não devemos investigar os mistérios de Deus, que estão além do nosso entendimento. As desigualdades da vida podem ser explicadas satisfatoriamente pelas leis gêmeas do Renascimento e de Conseqüência, que se harmonizam perfeitamente com a concepção de um Deus justo e amoroso, tal como Cristo o ensinou.
Além disso, é através dessas leis que podemos ver o modo de emancipar-nos das indesejáveis posições ou ambientes, e como alcançar qualquer grau de desenvolvimento, não importando quão imperfeitos sejamos presentemente.
O que somos, o que temos, todas as boas qualidades, são o resultado das nossas próprias ações passadas. O que agora nos falta física, moral ou mentalmente, pode ser nosso no futuro.
Assim como não podemos fazer outra coisa senão continuar nossa vida a cada manhã desde o ponto onde a largamos na noite anterior, assim também, por nossas obras nas vidas passadas, criamos as condições sob as quais agora vivemos e trabalhamos. Do mesmo modo estamos criando presentemente as condições de nossas futuras vidas, ao invés de nos lamentarmos pela falta desta ou daquela cobiçada faculdade, devemos é nos esforçar para adquiri-la.
Se uma criança toca admiravelmente um instrumento musical sem nenhum esforço, e outra toca com dificuldade apesar de persistente esforço, isso mostra simplesmente que a primeira se esforçou nessa direção em vidas passadas e está facilmente readquirindo sua antiga proficiência, enquanto que os esforços da outra começaram somente na presente vida, pelo que podemos ver a maior dificuldade que enfrenta. Contudo, se ela persistir poderá, talvez até na existência atual, tornar-se superior à primeira, a menos que esta continue se aperfeiçoando.
Que não recordemos os esforços feitos para adquirir uma faculdade através de uma aplicação tenaz é secundário, uma vez que isso não modifica a realidade de que a faculdade permanece.
O gênio é um indicio da alma avançada que, por meio de duro esforço em muitas vidas anteriores, desenvolveu em si mesmo algo mais além das realizações normais da raça. Ele revela um vislumbre do grau de realização que será posse comum da Raça futura. Ele não pode ser explicado pela hereditariedade, pois esta se relaciona apenas parcialmente com o corpo denso, não com as qualidades anímicas. Se o gênio pudesse ser explicado pela hereditariedade, por que não há uma longa linhagem comum de mecânicos entre os ancestrais de Thomas Edison, cada qual mais capacitado do que seu predecessor? Por que o gênio não se propaga? Por que não é Siegfried, o filho, maior que Richard Wagner, o pai?
Quando a expressão do gênio depende da posse de órgãos especialmente construídos, que requerem longo tempo de desenvolvimento, o Ego renasce naturalmente em uma família de Egos que tenham trabalhado gerações inteiras para construir organismos semelhantes. Esta é a razão de terem nascido, na família Bach, vinte e nove músicos, mais ou menos geniais, durante um período de duzentos e cinqüenta anos. Que o gênio é uma expressão da alma e não do corpo é demonstrado pelo fato de que essa faculdade não se aperfeiçoou gradativamente, alcançando sua máxima expressão na pessoa de Johan Sebastian Bach. Antes, sua proficiência estava muito acima não só da dos antecessores como dos sucessores.
O corpo é simplesmente um instrumento, cujo trabalho depende do Ego que o guia, assim como a qualidade de uma melodia depende da habilidade do músico e do timbre do instrumento. Um bom músico não pode expressar-se plenamente num instrumento pobre, assim como nem todos os músicos podem tocar de modo igual no mesmo instrumento. Que um Ego procure renascer como filho de um grande músico não significa necessariamente que venha a ser um gênio maior que o pai, o que forçosamente sucederia se o gênio fosse herança física e não uma qualidade anímica.
A "Lei de Atração" explica, de maneira completamente satisfatória, os fatos que atribuímos à hereditariedade. Sabemos que as pessoas de gostos análogos se procuram. Se sabemos que um amigo vive em certa cidade, mas ignoramos o seu endereço, a lei de associação ser-nos-á guia natural no esforço para encontrá-lo. Se é músico estará provavelmente em lugares onde se reúnem os músicos; se é estudante, procuramo-lo pelas livrarias, bibliotecas ou salas de leitura; ou se ele é esportista, busquemo-lo no hipódromo, nos campos de pólo ou nos estádios, etc.. Não é provável que o estudante ou o músico habitualmente freqüentem os lugares mencionados em último lugar, podendo também afirmar-se que a procura do esportista teria pouco êxito se feita nas livrarias ou em salões de música.
De modo semelhante, o Ego gravita ordinariamente em torno das associações de caráter semelhante ao seu. A isso ele é impelido por uma das forças do mundo do Desejo - a Força de Atração.
Pode-se objetar: havendo na mesma família pessoas de gostos completamente opostos, e até inimigas ferrenhas, é a Lei de Associação que as reúne ali?
A explicação disso é a seguinte: durante as vidas terrenas o Ego estabelece relações com várias pessoas. Estas relações podem ter sido boas ou não, implicando de um lado em obrigações que não foram liquidadas na ocasião, e de outro em injúrias e ódio entre o agravado e seu desafeto. Mas a Lei de Conseqüência exige um exato ajuste de contas. A morte não "paga tudo", assim como, mudar de cidade não liquida nossos débitos financeiros. No caso de dois inimigos, um dia encontrar-se-ão de novo: o antigo ódio reúne-se na mesma família, pois o propósito de Deus é que nos amemos uns aos outros, devendo o ódio transformar-se em amor. Assim, ainda que sejam talvez necessárias muitas vidas em contendas, chegará o momento em que os inimigos aprenderão a lição e far-se-ão amigos e mútuos benfeitores, ao invés de inimigos. Em tal caso o Interesse de ambos põe em atividade a Força de Atração, que os junta. Se tivessem simplesmente permanecido indiferentes um ao outro não poderiam achar-se associados.
Desta maneira as leis gêmeas - de Renascimento e de Conseqüência - resolvem de forma razoável todos os problemas incidentais à vida humana conforme o homem avança firmemente para o seu próximo estágio evolutivo - o de super-homem. O rumo do progresso humano é sempre para a frente e para cima, diz esta teoria - não como crêem alguns que confundem a doutrina do Renascimento com disparatadas crenças de algumas tribos hindus, as quais acreditam que o homem renasce em corpos animais ou vegetais. Isto seria uma retrogradação. Nenhuma autoridade pode ser encontrada na Natureza nem nos livros sagrados de qualquer religião que sustente semelhante doutrina retrógrada,. Apenas em um (um somente) dos manuscritos religiosos da índia se toca nesse ponto. No Kathopanishad (capítulo V, versículo 9) lê-se: "Alguns homens, de acordo com suas ações, vão à matriz; os outros ao "Sthanu". "Sthanu" é uma palavra sânscrita que significa "imóvel", mas também significa "um pilar". Isto tem sido interpretado como indicando que alguns homens, devido a seus pecados, retrocedem ao imóvel reino vegetal.
Os espíritos encarnam somente para adquirir experiência, conquistar o mundo, sobrepor-se ao eu inferior e alcançar o domínio próprio. Quando nos conscientizarmos disso poderemos compreender que futuramente não haverá mais necessidade de renascer, porque então todas as lições terão sido aprendidas. Os ensinamentos do Kathopanishad se referem que, ao invés de permanecer ligado à roda do nascimento e morte, o homem chegará um dia ao estado de imobilidade a que chamam "Nirvana".
No Livro da Revelação encontramos estas palavras:
"Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e jamais sairá", que se referem à completa libertação da existência concreta. Em parte alguma se encontra afirmação autorizada para a doutrina da transmigração das almas. O homem que evoluiu tanto a ponto de possuir uma alma separada e individual não pode retroceder em seu progresso e ocupar um corpo animal ou vegetal, uma vez que estes ainda estão subordinados a espíritos-grupo: O espírito individual é uma evolução superior à do espírito-grupo, e o menor não pode conter o maior.
Oliver Wendel Holmes, no seu formosíssimo poema "The Chambered Nautilus", concretiza a idéia do constante progresso em veículos cada vez melhores e da final libertação.
O náutilo constrói sua concha espiralada com seções ou compartimentos separados, abandonando constantemente o menor, que já não o comporta, para ocupar o último construído:
Ano após ano, sempre no silêncio
prossegue na labuta de ampliar as suas reluzentes espirais;
e, à medida que elas crescem mais,
deixa a morada do ano que passou e na nova vai habitar.
Com suaves passadas deslizando através dos
umbrais construídos com vagar,
acomoda-se outra vez em novo lar
e não mais o anterior vai recordar.
Pela mensagem celeste que me trazes, graças te dou
filho do oceano, lançado do teu meio desolado!
Dos teus lábios mortos nasce uma nota mais clara
que quaisquer das que Tritão já tirou do seu corno espiralado!
Enquanto em meus ouvidos ela soar,
através das cavernas profundas do pensamento,
ouço uma voz a cantar:
"Oh, Minh'alma! Constrói para ti mansões mais majestosas
enquanto as estações passam ligeiramente!
Abandona o teu invólucro finalmente!
Deixa cada novo templo, mais nobre que o anterior,
com cúpula celeste, com domo bem maior,
e que te libertes, decidida,
largando tua concha superada nos agitados mares desta vida.
A necessidade já mencionada de obter um organismo de natureza específica faz lembrar um aspecto interessante das leis gêmeas: do Renascimento e de Conseqüência. Estas Leis estão relacionadas com o movimento dos Corpos Cósmicos, isto é, o Sol, os planetas e os signos do Zodíaco. Todos se movem em harmonia com estas leis, guiados em suas órbitas por suas inteligências espirituais internas - os Espíritos Planetários.
Devido à precessão dos equinócios, o Sol move-se para trás através dos doze signos do Zodíaco à razão aproximada de um grau de espaço a cada 72 anos; através de um signo (30 graus de espaço) a cada 2.100 anos aproximadamente, completando todo o círculo em cerca de 26.000 anos.
Isto é devido ao fato de que a Terra não gira em torno de um eixo estacionário. Seu eixo tem um movimento lento, oscilante, próprio, (semelhante ao de um pião que já perdeu parte da força) descrevendo assim um círculo no espaço, pelo que uma estrela após outra se converte em Estrela Polar.
Por causa deste movimento oscilante o Sol não cruza o Equador no mesmo ponto todos os anos, mas sempre um pouco antes, razão do termo "precessão dos equinócios", isto é, o equinócio "precede" - chega mais cedo.
Todos os acontecimentos da Terra relacionados com os outros corpos cósmicos e seus habitantes estão ligados a este e a outros movimentos siderais. O mesmo se dá com as Leis de Conseqüência e do Renascimento.
Conforme o Sol atravessa os diferentes signos, no curso do ano, as mudanças climáticas e outras tais afetam o homem e suas atividades de várias maneiras. Semelhantemente, a passagem do Sol por precessão dos equinócios através dos doze signos do Zodíaco - que é chamado Ano Mundial, produz na Terra as mais variadas condições. O crescimento da alma exige que o homem experimente todas estas condições. De fato, conforme vimos é ele mesmo quem as prepara enquanto se acha no Mundo Celeste, entre nascimentos. Portanto, cada Ego nasce duas vezes durante o tempo em que o Sol, por precessão, passa através de um signo do Zodíaco, e como a alma é necessariamente bissexual renasce, alternadamente, em corpos masculinos e femininos a fim de adquirir toda espécie de experiências, posto que a experiência de um sexo difere amplamente da do outro. Ao mesmo tempo, como as condições externas não se alteram demais num milhar de anos, a entidade pode receber experiências em idêntico ambiente, tanto como homem quanto como mulher.
Nestes termos gerais atua a Lei do Renascimento. Contudo como não é uma lei cega, está sujeita a freqüentes modificações, determinadas pelos Anjos do Destino - Os Senhores do Destino. Exemplo disso é quando um Ego precisa de um olho ou de um ouvido muito sensitivo, e surge uma oportunidade para proporcionar-lhe o instrumento requerido em uma família com que tenha estabelecido relações prévias, o renascimento do Ego em questão pode ser antecipado. O tempo para o renascimento desse Ego, pode, talvez, demorar 200 anos para o amadurecimento, de acordo com o período médio, mas pode ser previsto pelos Anjos do Destino que, a não ser que esta oportunidade seja aproveitada, o Ego tenha de passar talvez quatro ou cinco centenas de anos além do tempo necessário de permanência no céu antes de apresentar-se outra oportunidade. Assim, o Ego renasce, antes do tempo programado, por assim dizer, mas o que vai faltar-lhe de repouso ao Terceiro Céu ser-lhe-á compensado em outra ocasião. Vemos portanto que não somente os que partiram atuam sobre nós desde o Mundo Celeste, mas também nós atuamos sobre eles atraindo-os ou repelindo-os. Uma oportunidade favorável de conseguir um instrumento adequado pode atrair um Ego ao renascimento. Se nenhum instrumento houvesse em disponibilidade, ele haveria de permanecer mais tempo no céu, de modo que o excesso de tempo ser-lhe-ia deduzido das vidas celestes posteriores.
A Lei de Conseqüência também age em harmonia com as estrelas. Assim, um homem nasce quando a posição dos corpos do sistema solar proporcionam condições necessárias para sua experiência e progresso na Escola da Vida. Por tal razão a astrologia é uma ciência absolutamente verdadeira, se bem que o melhor astrólogo pode equivocar-se, por ser falível tanto quanto os demais seres humanos. As estrelas mostram acuradamente e determinado pelos Senhores do Destino, o tempo exato na vida de um homem em que uma dívida deve ser paga. Fugir disso está fora do poder do homem. Sim, elas indicam até o dia exato, embora nem sempre sejamos capazes de lê-lo corretamente.
Dessa impossibilidade de escapar-se daquilo que está escrito nas estrelas - apesar de cientes disso - talvez o mais notável exemplo conhecido pelo autor ocorreu em Los Angeles, Califórnia, em 1906. O conhecido conferencista Sr. L. recebia aulas de Astrologia. Seu próprio horóscopo foi utilizado porque um aluno interessa-se mais pelo seu Tema do que pelo de um estranho. Além disso, pode comprovar mais facilmente a exatidão da interpretação de alguns pontos do mesmo. O horóscopo revelou uma propensão a sofrer acidentes. Foram então mostradas ao Sr. L. o modo e as datas em que ocorreram alguns acidentes e outros acontecimentos do passado. Também lhe foi dito que outro acidente ocorreria no dia 21 de julho ou no sétimo dia após, parecendo esta última data ser a mais perigosa, isto é, o dia 28 do mesmo mês. Foi alertado ainda sobre qualquer meio de transporte, e indicadas as partes ameaçadas de ferimento: peito, espáduas, braços, e a parte inferior da cabeça. Como estava plenamente convencido do perigo, ele prometeu ficar em casa nesse dia.
O autor foi, por aquele tempo, ao norte de Seattle, e uns poucos dias antes da data crítica escreveu ao Sr. L., prevenindo-o novamente. O Sr. L. respondeu que haveria de lembrar-se da recomendação e teria cuidado.
A seguinte comunicação sobre o caso veio de um amigo comum: no dia 28 de julho o Sr. L. fora à Sierra Madre num bonde, o qual se chocou com um trem. O Sr. L. sofre exatamente os ferimentos previstos e mais um que não lhe fora anunciado: o seccionamento de um tendão da perna esquerda.
A questão era averiguar por que o Sr. L., tendo completa fé na predição, não dera melhor atenção ao aviso. A explicação veio três meses após, quando se recompôs suficientemente para poder escrever. Na carta dizia: "Eu julguei que o dia 28 era 29".
Nenhuma dúvida na opinião do autor: tratava-se de uma parte do destino "maduro", impossível de evitar, tal como fora prenunciado pelas estrelas.
As estrelas portanto podem ser chamadas de "O Relógio do Destino". Os doze signos do Zodíaco correspondem ao mostrador: o Sol e os planetas ao ponteiro das horas, que indicam o ano; e a Lua o ponteiro dos minutos, indicando os meses em que os diversos acontecimentos do destino maduro de cada vida devem cumprir-se.
Nunca é demais insistir em que, embora hajam alguns casos que não podem ser evitados, o homem dispõe de certa margem de livre arbítrio para modificar algumas causas já postas em movimento. Como disse o poeta:
Um barco sai para Leste e para Oeste um outro sai
Com o mesmo vento que sopra, numa Única direção.
E a posição certa das velas e não o sopro do vento
que determina por certo, o caminho em que eles vão.
Os caminhos do destino são como os ventos do mar
conforme nós navegamos ao longo e através da vida.
É a ação da alma que à meta nos vai levar
e não a calmaria ou o constante lutar.
O importante é compreender que nossas ações atuais determinam as condições futuras.
Os religiosos ortodoxos, e até os que não professam religião alguma, consideram como um dos mais fortes argumentos contra a Lei do Renascimento ser ela ensinada na Índia a "pagãos ignorantes" que nela crêem. Não obstante, se é uma lei natural não pode haver nenhuma objeção, por forte que seja, que a invalide ou a impeça de atuar. Antes de falarmos de "pagãos ignorantes" ou de enviarmos missionários a eles, seria conveniente que examinássemos um pouco os nossos conhecimentos. Os educadores queixam-se por toda a parte da superficialidade de conhecimento dos nossos estudantes. O prof. Wilbur L. Cross, de Yale, menciona entre outros casos de ignorância o fato de, uma classe de quarenta alunos, nenhum ser capaz de "localizar" Judas Iscariotes!
Quer nos parecer que seria mais proveitoso se os missionários, em vez de se esforçarem nos países "pagãos" e no trabalho em cortiços, dirigissem esses esforços no sentido de levar iluminação à juventude estudantil de nosso próprio país. Seguindo os princípios de que a "caridade começa em casa" e como "Deus não permitirá que os pagãos ignorantes pereçam", bem melhor seria deixá-los na ignorância que lhes assegura o céu do que, pretendendo esclarecê-los, proporcionar-lhes muitas oportunidades de irem para o inferno em legiões. Seguramente este é o caso em que "onde a ignorância é uma bênção, é loucura ser sábio". Prestaríamos um notável serviço aos pagãos e a nós mesmos se os deixássemos entregues a si mesmos e fôssemos procurar um cristão ignorante mais próximo de nossa casa.
Além disso, chamá-la de doutrina de pagãos não a compromete. Por outro lado, sua prioridade no Oriente não é argumento contra ela, da mesma forma que a solução exata de um problema matemático não é invalidada simplesmente por não simpatizarmos com a pessoa que o resolveu. A questão é apenas esta: a solução está certa? Se está, é absolutamente indiferente de onde ela tenha vindo.
Todas as demais religiões não foram mais que condutoras à religião cristã. Eram Religiões de Raça e continham somente em parte o que o Cristianismo tem em maior grau. O verdadeiro Cristianismo Esotérico ainda não foi ensinado publicamente, nem o será enquanto a humanidade não ultrapassar o estado materialista e esteja mais preparada para recebê-lo. As Leis do Renascimento e da Conseqüência têm sido ensinadas secretamente em todos os tempos, mas por ordem direta do próprio Cristo; como veremos, essas duas leis não foram publicamente ensinadas no Mundo Ocidental durante os dois mil anos passados.
O VINHO COMO FATOR DA EVOLUÇÃO
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