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CARTA Nº 67

Junho de 1916

OS REAIS HERÓIS DO MUNDO

 

            Ainda que a data desta carta seja do dia primeiro do mês, ela foi escrita um pouco antes, quer dizer, na véspera do “Decoration Day”, dia em que todos os americanos patriotas honram os heróis mortos que lutaram pela integridade da União.

            Refletindo sobre este assunto, ocorreu-me que parece sempre necessária uma calamidade ou uma catástrofe para que o homem se esqueça de si mesmo e atenda ao apelo de uma causa ou 1à necessidade daquele momento, sem considerar as consequências. Ele reage e age sempre nas guerras, terremotos, incêndios ou naufrágios.

            Mas, por que devem ser precisos tais cataclismos para despertar a virtude do auto-sacrifício, quando ela é necessária todos os dias, em todas as horas, em todos os lares, lugarejos e cidades? O mundo seria bem melhor se praticássemos atos nobres diariamente, em vez de aguardarmos circunstâncias excepcionais. Pode ser nobre o morrer por uma grande causa, mas é muito mais nobre viver uma existência de desprendimento e auto-sacrifício consolando os outros, ajudando-os a ser melhores e mais dignos, do que morrer esforçando-se por matar um semelhante.

            São muitos os pais que lutam anos e anos para dar a seus filhos o que eles chamam “uma oportunidade na vida”. São milhares de mães que labutam a vida toda em “duros trabalhos” para ajudar os seus filhos. Existem milhões destes heróis que permanecem ignorados, no entanto, ajudaram seus semelhantes a viver em vez de causar-lhes a morte.

            Não é uma anomalia que glorifiquemos um exército de homens que mataram, mataram e mataram, enquanto aquele exército infinitamente maior, que alimentou o que há de melhor na Terra, permanece esquecido na sepultura?

            Como seguidores de Cristo, honremos os heróis e heroínas que lutam e se dedicam aos outros durante anos e anos, prodigalizando os seus cuidados em favor da infância desamparada, servindo sem vacilar em épocas de doença, ajudando desinteressadamente os necessitados e os sem recursos.

            Não esperemos que esses benfeitores tenham passado para o além. Glorifiquemo-los aqui e agora. Tampouco devemos estipular um dia do ano parra pagar tal tributo, mas devemos honrá-los todos os dias das nossas vidas, procurando a maneira de alivia-los de suas cargas, imita-los e ajuda-los em seus mais nobres atos.

            Como os encontraremos? Eles não usam uniformes, nem exibem condecorações. Então em toda a parte e nós os encontraremos se os procurarmos. Quanto mais depressa ingressarmos em suas fileiras, mais depressa nos tornaremos verdadeiros servos do Mestre, “Tudo o que fizerdes ao menor de Meus irmãos, a Mim o fazeis”.

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