CAPÍTULO IX - ATRASADOS E PRINCIPIANTES

 

Ao acompanhar, no capítulo anterior, a evolução da vida, da consciência e da forma - tríplice fase de manifestação do espírito virginal que é a vida juntando-se à forma para, por seu intermédio, obter consciência expusemos o assunto como se houvesse apenas uma só classe de espíritos virginais, ou que estes, sem exceção, tivessem feito um progresso constante e uniforme.

Fizemos assim para simplificar o assunto, porque em realidade houve atrasados, como há em qualquer grande corporação ou coletividade.

Nas escolas, todos os anos, alguns alunos não conseguem alcançar a média necessária para promoção a um grau superior. Analogamente a cada Período de Evolução, há os que se atrasam porque não atingem a média necessária para passar ao próximo grau superior.

Já no Período de Saturno houve alguns que falharam em alcançar o desenvolvimento suficiente para mais um passo. Naquele estágio os Seres Superiores trabalharam com a vida que era inconsciente de si mesma , mas essa inconsciência não impedia o retardamento de alguns dos Espíritos Virginais menos flexíveis, menos adaptáveis que os demais.

Nessa única palavra, "Adaptabilidade", temos o grande segredo do atraso ou do progresso. Todo adiantamento depende da flexibilidade e adaptabilidade do ser evolucionante, de ser capaz de acomodar-se, por si, a novas condições ou estacionar e cristalizar-se, tornando-se incapaz de toda transformação. A adaptação é qualidade que faz progredir, esteja a entidade num grau superior ou inferior de evolução. A falta de adaptação é causa de atraso para o espírito e de retrocesso para a forma. Isto aplica-se ao passado, ao presente e ao futuro, e a qualificação ou inqualificação é feita exata e impessoalmente, com toda justiça, pela Lei de Consequência. Nunca houve nem haverá uma distinção arbitrária entre as "ovelhas" e as "cabras".

A endurecida receptividade, em alguns dos seres de Saturno, impediu o despertar do Espírito Divino, do que resultou permanecerem como simples minerais, pois só tinham o corpo denso, em germe.

No Período Solar houve duas classes ou reinos: os atrasados do Período de Saturno, ainda minerais, e os pioneiros do mesmo período aptos a receberem o germe do corpo vital e tornarem-se análogos às plantas.

Além destes, houve, ainda, um terceiro reino, uma nova onda de vida. Começou sua atividade no princípio do Período Solar. É a onda de vida que atualmente anima nossos animais.

A matéria na qual entrou a nova onda de vida, junto com os atrasados do Período de Saturno, formaram o reino mineral do Período Solar. Havia uma grande diferença entre essas duas subdivisões do segundo reino. É possível aos atrasados fazerem um esforço e alcançarem os adiantados (que formam nossa atual humanidade), porém, a nova onda de vida do Período Solar esteve impossibilitada de fazê-lo. Alcançará um estado correspondente ao humano, mas sob condições muito diferentes.

A divisão entre atrasados e pioneiros ocorreu na sétima Revolução do Período de Saturno, quando os Senhores da Chama despertaram o Espírito Divino e verificaram que algumas entidades evolucionantes encontravam-se em tais condições de insensibilidade, que era impossível despertá-las. Tiveram de continuar sem a chispa espiritual de que dependia seu progresso e viram-se obrigadas a permanecer no mesmo nível incapazes de seguir as que tiveram a chispa espiritual despertada. É bem verdadeiro: tudo o que somos ou deixamos de ser é o resultado de nosso próprio esforço ou de nossa própria inação.

Esses atrasados e a vida recém-chegada formaram manchas obscuras na brilhantes esfera gasosa do globo mais denso do Período Solar. As manchas solares atuais são um resíduo atávico daquele fato.

Na sexta Revolução do Período Solar, os Querubins despertaram o Espírito de Vida. Novamente, fracassaram alguns dos que haviam ultrapassado o ponto crítico do Período de Saturno, mas ficaram incapazes de receber a vivificação do segundo aspecto do espírito, no Período Solar. Constituíram outra classe de atrasados que ficou para trás da crista da onda evolutiva.

Na sétima Revolução do Período Solar, os Senhores da Chama reapareceram para despertar o Espírito Divino nos que, tendo fracassado ao final do Período de Saturno, mas tinham atingido o ponto onde podiam receber o impulso espiritual no Período Solar. Os Senhores da Chama despertaram o germe do Espírito Divino nas entidades aptas da nova onda de vida, mas também houve atrasados.

No princípio do Período Lunar, existiam as seguintes classes:

1 - Pioneiros, os que passaram com êxito através do Período de Saturno e Solar. Tinham corpos vital e denso e Espíritos de Vida e Divinos, germinalmente ativos.

2 - Atrasados do Período Solar, os que tinham corpos denso e vital e Espírito divino, todos em germe.

3 - Atrasados do Período de Saturno, os promovidos na sétima Revolução do Período Solar; possuíam germes do corpo denso e do Espírito Divino.

4 - Pioneiros da nova onda de vida Solar; tinham os mesmos veículos que os da classe 3. Pertenciam a um esquema de evolução diferente do nosso.

5 - Atrasados da nova onda de vida; tinham somente o germe do corpo denso.

6 - Uma nova Onda de Vida que começou sua evolução ao princípio do Período Lunar; é a vida que anima atualmente as plantas.

É bom recordar que a Natureza caminha muito devagar, não muda as formas subitamente. Para ela o tempo nada significa, o seu único objetivo é alcançar a perfeição. O mineral não chega ao estado vegetal de um salto, mas por gradações quase imperceptíveis. Uma planta não se converte em animal em uma noite. Milhões de anos são necessários para produzir a mudança. Em todos os tempos poderemos encontrar toda classe de estados e gradações na Natureza. A escala do ser eleva-se, sem descontinuidade, desde o protoplasma até Deus.

Não vamos considerar seis reinos diferentes por corresponderem às seis classes que entraram na arena da evolução ao princípio do Período Lunar. Trataremos somente de três reinos: o mineral, o vegetal e o animal.

A nova onda de vida do Período Lunar era constituída da classe inferior. Era a parte mais densa, a mineral, devendo ficar entendido que não era tão dura como os minerais atuais; sua densidade era análoga à da madeira.

Esta afirmação não contradiz as anteriores, que descreviam a Lua como aquosa, nem está em conflito com o Diagrama 8, que mostra o globo mais denso do Período Lunar como um Globo etérico, situado na Região Etérica. Como se indicou anteriormente, a espiral do caminho da evolução impede a sucessão de condições idênticas. Haverá analogias ou semelhanças, mas nunca se reproduzirão condições iguais. Nem sempre é possível descrever em termos exatos. Os termos empregados para sugerir a verdadeira idéia das condições existentes na época que estamos considerando são os mais apropriados.

A classe 5 da nossa lista era mineral mas, por ter passado além do mineral durante o Período Solar, possuía algumas características vegetais.

A classe 4 era quase vegetal, evoluía para planta antes do término do Período Lunar. Todavia, pertencia mais ao reino mineral que as duas classes imediatas, que formavam o reino superior. Podemos agrupar as classes 4 e 5 e formar um reino de grau intermediário, um reino "vegetal-mineral", constituinte da superfície do antigo planeta do Período Lunar. Era algo semelhante à turfa, um estado intermediário entre o vegetal e o mineral, e muito úmido, o que concorda com a afirmação já feita de que o Período Lunar era aquoso.

Assim, as classes sexta, quinta e quarta formavam as diversas gradações do reino mineral no Período Lunar, estando a mais elevada próxima do vegetal e a inferior da substância mineral mais densa daquele tempo.

As classes terceira e segunda formavam o reino vegetal; eram realmente, algo mais do que plantas, mas não eram de todo animais. Cresciam sobre o solo mineral-vegetal e eram estacionárias como as plantas. Não teriam podido crescer nem desenvolver-se sobre terreno puramente mineral, como fazem nossas plantas atuais. Podemos encontrar uma boa semelhança nas plantas parasitas: não podendo desenvolver-se sobre um terreno puramente mineral procuram o alimento já especializado por um arbusto ou árvore.

A classe um era composta pelos pioneiros da onda de vida dos espíritos virginais. No Período Lunar passaram uma existência análoga à do animal. Assemelhavam-se aos animais dos nossos tempos por terem os mesmos veículos e por estarem sob a direção de um espírito-grupo, que abrangia toda a família humana. Sua aparência era muito diferente da dos animais atuais, conforme se viu pela descrição parcialmente dada no capítulo anterior. Não pousavam na superfície do planeta, flutuavam, suspensos por uma espécie de cordões umbilicais. Em vez de pulmões tinham brânquias e por elas respiravam o vapor quente da neblina ígnea. Tais condições de existência lunar ainda são recapituladas na atualidade, durante o período de gestação. Em certa altura do desenvolvimento, o embrião possui brânquias. Os seres lunares desse tempo tinham, como os animais, a espinha dorsal horizontal.

Durante o Período Lunar subdividiram-se diversas classes, mais do que nos períodos precedentes, porque, como é de supor, houve também atrasados, fracassados, os que não puderam manter-se na vanguarda da onda evolutiva. Resultado: ao principiar o Período Terrestre havia cinco classes, contendo algumas delas várias divisões, como mostra o diagrama 10. Essas divisões sucederam-se nas seguintes épocas e pelas razões expostas.

Em meados da quinta Revolução do Período Lunar, os Serafins forneceram o germe do Espírito Humano aos que se adaptaram para seguir avante, os pioneiros. Alguns não puderam receber o impulso espiritual que despertasse neles o tríplice espírito.

Na sexta Revolução do Período Lunar, os Querubins reapareceram e vivificaram o Espírito de Vida dos que tinham ficado atrás no Período Solar, aqueles que tinham alcançado o grau de desenvolvimento necessário para isso (a classe 2 da nossa lista anterior). Fizeram o mesmo nos atrasados do Período Solar que não desenvolveram o corpo vital durante a existência vegetal no Período Lunar. Estão representados na terceira classe da lista mencionada.

A quarta classe dessa lista atravessou um grau inferior de existência vegetal, mas a maioria desenvolveu suficientemente o corpo vital, de modo a permitir o despertar do Espírito de Vida.

Assim, as três últimas classes possuíam os mesmos veículos no princípio do Período Terrestre. Somente as duas primeiras (classes 3a e 3b do diagrama 10) pertencem à nossa onda de vida e têm possibilidades de alcançar-nos, se vencerem o ponto crítico da próxima Revolução do Período Terrestre. Os que não puderam passar esse ponto, ficarão apartados, até poderem entrar em alguma evolução futura e prosseguir seu desenvolvimento em novo período humano. Excluídos, não poderão seguir com a nossa humanidade, porque esta ter-se-ia desenvolvido deixando-os distantes. Seria um verdadeiro obstáculo ao nosso progresso se tivéssemos de rebocá-los. Não serão destruídos, isso não, mas ficarão à espera de outro período evolutivo.

Progredir na onda evolutiva atual é o que se pretende significar quando, na religião cristã, se fala em "salvação". Tal salvação deve ser procurada com toda diligência. A "condenação eterna" não significa destruição ou sofrimento sem fim. Entretanto, é algo muito sério encontrar-se algum espírito num estado de inércia durante inconcebíveis milhares de anos, até que, numa nova evolução, chegue ao estado de unir-se a ela e prosseguir sua tarefa. O espírito não é consciente desse lapso de tempo, mas nem por isso a perda é menos séria. Ao entrar na nova evolução, terá um sentimento inexplicável de desambientação, de não estar em seu lugar.

No que diz respeito à humanidade atual, tal possibilidade é tão pequena que está quase fora de cogitação. Entretanto, diz-se que unicamente três quintas partes do número total de espíritos virginais que começaram a evolução no Período de Saturno passarão o ponto crítico da próxima revolução e continuarão até o fim.

A maior apreensão dos ocultistas é o materialismo. Se for levado demasiado longe, não somente impedirá todo o progresso; chegará até a destruir os sete veículos do espírito virginal, deixando-o completamente nu. Quem se encontra em semelhante caso terá de recomeçar a evolução desde o princípio. Todo trabalho efetuado desde o princípio do Período de Saturno será uma perda completa. Por tais razões, o presente período é, para nossa humanidade, o mais crítico de todos. Os ciêntistas-ocultistas falam das dezesseis raças (das quais a germano-anglo-saxônica é uma delas), como de "dezesseis possibilidades de destruição". Possa o leitor sobrepassar todas, porque não consegui-lo seria muito pior do que atrasar-se na próxima Revolução.

Falando de modo geral, a quinta classe anteriormente mencionada, obteve o germe do Espírito Divino na sétima Revolução do Período Lunar, quando reapareceram os Senhores da Chama. Portanto, foram os pioneiros da última onda de vida, a que entrou em evolução no Período Lunar. Ali passaram sua existência mineral. Os atrasados dessa onda de vida ficaram somente com o germe do corpo denso.

Além das nomeadas, houve também uma nova onda de vida (o atual reino mineral) que entrou na evolução ao princípio do Período Terrestre.

Ao final do Período Lunar, essas classes possuíam os veículos indicados no diagrama 10, com eles passando para as condições do Período Terrestre.

Durante o tempo transcorrido desde o princípio do Período Terrestre, o reino humano vem desenvolvendo o elo da mente, despertando para a plena consciência de vigília. Os animais obtiveram um corpo de desejos. As plantas um corpo vital. Os atrasados da onda de vida evolutiva começada no Período Lunar esparam à dura e pesada condição pétrea, e, agora, seus corpos densos formam nossas terras brandas. Finalmente, a onda de vida que começou a evolução no Período Terrestre forma as rochas e pedras mais duras.

Foi assim que as diferentes classes adquiriram os veículos indicados no diagrama 3, ao qual remetemos novamente o leitor. 

 

CAPÍTULO X - O PERÍODO TERRESTRE

 

Os globos do Período Terrestre estão situados nos quatro estados mais densos de matéria: a Região do Pensamento Concreto, o Mundo do Desejo e as Regiões Química e Etérea (veja-se o diagrama 8). O globo mais denso, o D, é nossa Terra atual.

Quando falamos de "mundos mais densos" ou de "estados mais densos de matéria", deve-se tomar o termo em sentido relativo. Em caso contrário implicará numa limitação do Absoluto, o que seria um absurdo. Densidade e subtilidade, acima e abaixo, leste e oeste, são palavras de significação relativa ao nosso próprio estado ou posição. Assim como a nossa onda de vida se manifesta em mundos superiores e sutis, assim também há estados mais densos de matérias que formam o campo de evolução de outras classes de seres. Não vamos imaginar estes mundos mais densos em outras partes do espaço. Estão interpenetrados por nossos mundos, analogamente como os mundos superiores interpenetram a Terra. A solidez aparente da Terra e das formas nela existentes não pode impedir a passagem de um corpo menos denso. O mais sólido muro não pode evitar a passagem de um ser humano que viaje em seu corpo de desejos. Aliás, a solidez não é sinônimo de densidade, como bem exemplifica o alumínio, sólido muito pouco denso. O fluido mercúrio tem bastante densidade, mas não impede que se evapore e escape através de muitos sólidos.

Neste quarto Período temos, atualmente, quatro elementos. No Período de Saturno não havia mais do que um elemento: o Fogo, isto é, calor, o fogo incipiente. No segundo Período, o Solar, havia dois elementos, o Fogo e o Ar. No terceiro Período, o Lunar, com a Água que se acrescentou, havia três. No quarto, o Terrestre, juntou-se um quarto elemento: a terra. Portanto, em cada Período houve um elemento adicionado.

No Período de Júpiter será agregado um elemento de natureza espiritual. Unir-se-á com a linguagem, fazendo que as palavras levem consigo o verdadeiro significado. Não haverá equívocos ou ambiguidades, como acontece tão frequentemente agora. Por exemplo, quando alguém diz "casa" pode querer significar uma simples residência mas um interlocutor pode entender que se trata de um compartimento, e outro de uma grande edifício.

As classes mencionadas no diagrama 10 foram trazidas a este ambiente de quatro elementos pelas Hierarquias que as tinham a seu cargo. Recordemos que, no Período Lunar, estas classes formavam três reinos: animal, animal-vegetal e vegetal-mineral. Aqui, na Terra, as condições existentes já não permitem classe intermediária. Só podem existir quatro reinos distintos e diferentes. Nesta fase de existência cristalizada das formas, torna-se muito mais definida a diferença entre os reinos, o que não acontecia nos primeiros Períodos, em que cada reino imergia gradualmente no seguinte. Portanto, algumas das classes citadas no diagrama 10 avançaram meia etapa, enquanto outras retrocederam outro tanto.

Alguns dos minerais-vegetais avançaram completamente para o reino vegetal e formaram a verdura dos campos. Outros retrocederam e converteram-se no solo puramente mineral em que crescem as plantas. Alguns dos vegetais-animais desenvolveram-se até o reino animal. Sua espécies têm ainda o sangue incolor dos vegetais, e outras, como as estrelas do mar, conservam ainda as cinco pontas semelhantes às pétalas de uma flor.

Os da classe 2, cujos corpos de desejos estavam em condições de serem divididos em duas partes (neste caso, todos os da classe 1) e que podiam atuar em veículos humanos, avançaram para o grupo humano.

Convém reparar cuidadosamente que, nos parágrafos anteriores, faz-se referência às formas, não à vida, que anima as formas. O instrumento está graduado para servir à vida que o anima.

Os da classe 2, em quem se podia efetuar a divisão mencionada, elevaram-se ao reino humano, mas o espírito interno foi-lhes dado um pouco mais tarde do que aos da classe 1. Por consequência, não estão tão desenvolvidos como os da classe 1, e formam as raças humanas inferiores.

Os que tinham seus corpos de desejos incapazes de divisão foram colocados nas mesmas condições das classes 3a e 3b; constituem os presentes antropóides. Entretanto, se alcançarem o suficiente grau de desenvolvimento antes do ponto crítico já mencionado, que virá a meados da quinta revolução, poderão seguir com a nossa evolução. Caso não consigam, perderão todo contato com ela.

Como dissemos, nos três primeiros Períodos o homem construiu seu tríplice corpo com a ajuda que lhe prestaram outros seres superiores, mas não havia poder coordenador, pois o tríplice espírito, o Ego, estava separado dos seus veículos. Agora chegou o tempo próprio para unir o espírito e corpo.

Feita a divisão do corpo de desejos, a parte superior, de certo modo, tornou-se senhora, não só da parte inferior como dos corpos vital e denso. Formou algo como uma alma-animal, à qual o espírito podia unir-se por meio do elo da mente. Onde não houve divisão do corpo de desejos, o veículo entregava-se desenfreadamente a paixões e desejos e não podia ser empregado como veículo interno capaz de ser usado para a morada do espírito. Por isso, ficou sob a direção de um espírito-grupo que o guiava de fora. Essa classe animal degenerou e converteu-se nos antropóides.

Ao mesmo tempo que o corpo de desejos se dividia, o corpo denso adquiria gradualmente a posição vertical, tirando a espinha dorsal do alcance das correntes do Mundo do Desejo, no qual o espírito-grupo age sobre o animal através da espinha dorsal horizontal. O Ego podia agora entrar, agir e expressar-se por meio da espinha dorsal vertical, construir a laringe vertical bem como o cérebro, para sua expressão adequada no corpo denso. A laringe horizontal está também sob o domínio do espírito-grupo. Se é certo, como já mencionamos, que alguns animais, tais como os estorninhos, os periquitos, os papagaios, etc., podem emitir palavras, por possuírem laringe vertical, não podem pronunciá-las inteligentemente. Empregar palavras para expressar o pensamento é o mais alto privilégio da humanidade e só pode ser efetuado por uma entidade que pense e raciocine como o homem. Se o estudante em sua mente fixar isso bem, ser-lhe-á fácil seguir as diferentes etapas do progresso humano no Período Terrestre.

 

A REVOLUÇÃO DE SATURNO DO PERÍODO TERRESTRE

 

Nesta Revolução, em qualquer período, reconstrói-se o corpo denso. Desta vez, deu-lhe a possibilidade de formação de um cérebro, que se converteu em meio de expressão do germe mental, dado posteriormente. Com esta reconstrução final o corpo denso adquiriu capacidade e alcançou maior eficiência.

É impossível exprimir em palavras a maravilhosa sabedoria empregada na construção do corpo denso. Nunca ao estudante se inculcarão suficientemente as incomensuráveis facilidades deste instrumento para adquirir conhecimentos, a grandeza do benefício que representa para o homem, o quanto deve estimá-lo, e quão agradecido deve sentir-se por possui-lo.

Já foram expostos alguns exemplos da perfeição de construção e de inteligente adaptabilidade nesse instrumento. Para tornar mais evidente esta grande verdade, vamos ilustrar essa sabedoria, mostrando o trabalho do Ego no sangue.

É geralmente sabido que o suco gástrico atua sobre o alimento para colaborar na assimilação. Contudo, muitos poucos, salvo os médicos, sabem da existência de muitos outros diferentes sucos gástricos, cada um deles apropriados a cada classe de alimentos. As investigações de Pavlov demonstraram além de toda a dúvida, que há uma classe de suco para a digestão da carne, outra para a do leite, outra para a das frutas ácidas, etc. Isso explica por que nem todas as misturas de alimento fazem bem. O leite, por exemplo, necessita de um suco gástrico completamente diferente daquele necessário para qualquer outro alimento, com exceção dos amidos que não podem ser digeridos com facilidade se forem misturados com outros alimentos além dos cereais. Bastaria isso para mostrar uma sabedoria maravilhosa. É o Ego que age subconscientemente e seleciona os diferentes sucos, cada qual apropriado a um ou diversos alimentos que se introduzem no estômago, e dotados da quantidade de energia necessária à digestão. Porém, ainda mais maravilhoso é o suco gástrico filtrar-se no estômago antes do alimento ali chegar.

O mesclar dos sucos não é processo consciente. A grande maioria das pessoas nada sabe do metabolismo ou de qualquer outra fase da química. Logo, não é suficiente explicação dizer que, ao provarmos o que comemos, estamos realizando o processo digestivo por meio de influxos do sistema nervoso.

Quando se descobriu a seleção dos sucos gástricos, os homens de ciência ficaram embaraçados para compreender ou explicar como era selecionado o suco necessário, e como este se filtrava no estômago antes do alimento. Creram primeiramente que o impulso era dado através do sistema nervoso mas, depois, demonstrou-se afastando toda dúvida, que o suco apropriado se filtrava no estômago ainda que o sistema nervoso estivesse inibido.

Por último, Starling e Bayliss, em uma série de brilhantes experiências, provaram que o sangue tomava partes infinitesimais do alimento que penetrava pela boca e, levava-as diretamente às glândulas digestivas, originava a secreção do suco gástrico requerido.

Porém, isto é somente o aspecto físico do fenômeno. Para compreendê-lo por completo, devemos recorrer à ciência oculta. Unicamente ela explica por que o sangue transporta esse sinal.

O sangue é uma das mais elevadas expressões do corpo vital. O Ego guia e controla o instrumento denso por meio do sangue, portanto, é também o meio empregado para agir sobre o sistema nervoso. Durante parte da digestão, atua parcialmente através do sistema nervoso, mas, especialmente ao começar o processo digestivo, atua diretamente sobre o estômago. Quando, nas experiências científicas citadas, os nervos foram inibidos, foi através do sangue que permaneceu aberto o caminho direto e, por esse modo, o Ego recebeu a informação necessária.

Outrossim, o sangue é dirigido a qualquer parte do organismo em que o Ego esteja desenvolvendo maior atividade. Quando em certa situação, é preciso pensar e agir rapidamente, o sangue dirigi-se rápido ao cérebro. Se temos de digerir uma comida copiosa, o sangue abandona a cabeça e outras partes do corpo para concentrar-se nos órgãos digestivos. O Ego concentra esforços para livrar o corpo de todo excesso ou alimento inútil. Por isso, não é possível pensar bem depois de ter comido muito. Vem a sonolência, porque a maior parte do sangue é afastada do cérebro, e a que permanece é insuficiente para produzir as funções necessárias à plena consciência de vigília. Além disso, quase todo o fluido vital, energia solar especializada pelo baço, é absorvida pelo sangue que, depois das refeições, passa através desse órgão em maior volume. O resto do sistema também fica privado de fluido vital, em grande extensão, durante o processo digestivo.

É o Ego que impele o sangue para o cérebro. Toda vez que o corpo vai adormecer, o sangue abandona o cérebro, como se pode provar colocando um homem sobre um plano horizontal em equilíbrio. Ao adormecer, baixará do lado dos pés e levantar-se-á do lado da cabeça. Durante o ato sexual o sangue concentra-se nos órgãos respectivos, etc.

Este exemplos tendem a provar que, durante as horas de vigília, o Ego controla o corpo denso por meio do sangue. A maior quantidade dirige-se sempre ao ponto do corpo em que, num determinado momento, o Ego desenvolve sua principal atividade.

A reconstrução do corpo denso, na Revolução de Saturno do Período Terrestre, teve a finalidade de torná-lo apto para ser interpenetrado pela mente. Recebeu o primeiro impulso para construção do sistema nervoso. Desde então, começaram a objetivar-se o sistema voluntário e o simpático. Este último já fora obtido no Período Lunar, mas o sistema nervoso voluntário não se obteve senão no atual Período Terrestre. Por intermédio do sistema voluntário, o corpo denso, que era um mero autônomo agindo somente em função de estímulos exteriores, transformou-se num instrumento extraordinariamente adaptável, capaz de ser guiado e governado pelo Ego, de dentro.

O trabalho principal de tal reconstrução foi executado pelos Senhores da Forma. Esta Hierarquia é a mais ativa no atual Período Terrestre, assim como as mais ativas do Período de Saturno foram os Senhores da Chama; no Período Solar os Senhores da Sabedoria e no Período Lunar os Senhores da Individualidade.

O Período Terrestre é, eminentemente, o Período da Forma. Aqui, a parte material da evolução está em seu grau mais elevado, ou mais pronunciado. Em contrapartida, o espírito está mais abandonado e coibido. A forma é o fator mais dominante, daí o predomínio dos Senhores da Forma.

A REVOLUÇÃO SOLAR DO PERÍODO TERRESTRE

 

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