Antes de mais, por ser um tema coimbrão e por ser - em minha opinião – um tema que em Coimbra deveria ser tratado de um modo mais profundo. Explico-me melhor: não basta abordá-lo num plano “para turista ver”, ou no contexto literário e histórico, que é bom, e muitas grandes obras tem dado, mas ainda insuficiente para mim. É preciso uma abordagem diria filosófica e de reflexão profunda num contexto verdadeiramente português.
EA - O poeta escolhido para a cantata foi Miguel Torga. Foi pelo facto do escritor viver em Coimbra ou existiu outra razão oculta para essa escolha?
O poema de Miguel Torga que faz parte do livro «Poemas Ibéricos» (obra notável do poeta) é muito interessante porque fala também de Romeu e Julieta, e onde o autor compara Pedro e Inês às duas personagens da célebre obra de Shakespeare. Por outro lado, sempre achei estranho que, tanto quanto sei, nenhum músico de Coimbra tenha musicado este poema. Atrevi-me eu. Melhor ou pior, a obra fez-se no ano (2008) do Centenário do poeta, e em estreia absoluta em Coimbra, cantada pelo Choral Poliphonico de Coimbra, em espectáculo partilhado pelo grupo Quatro Elementos, do qual faço parte.
Infelizmente assistiram poucas pessoas ao programa.
ELP - Tem mais obras sobre D. Inês e D. Pedro? (Além do poema que já colocámos no Blogue)
EA - Sim, tenho mais uns dois poemas, uma balada de Coimbra (com acompanhamento de guitarra portuguesa e da chamada “viola”. Neste momento estou a iniciar uma suite para canto (lírico) e acompanhamento de guitarra clássica. Numa perspectiva filosófica ou de reflexão sobre Portugal, tenho um ensaio que foi publicado numa revista do Porto, Teoremas de Filosofia, dirigida por Joaquim Domingues.
ELP - Qual a importância, na sua opinião, desta história de amor trágico para si, para Coimbra e para o mundo?
EA - A história de Pedro e Inês chega a superar Tristão e Isolda e Romeu e Julieta. Há algumas razões, as quais aqui não é possível abordar por falta de espaço. Passo a dizer só esta e muito resumida: intrigas palacianas sempre as houve em todos os tempos, com escaramuças, traições, mortes. Mas por que é que esta nossa singular história portuguesa ficou universal e muitas outras não? É que Inês, depois de morta é rainha. À primeira vista parece trágico tentar coroar um corpo morto. A verdade é que não era o corpo – esse estava morto e já não servia para nada – mas o AMOR é que era COROADO. O AMOR VENCEU. O que aparentemente é trágico é um fruto do amor.
Portanto, rainha que foi rainha depois de morta, só conheço o caso de Inês. Fico-me por aqui…
ELP - Quer acrescentar mais alguma informação que considere útil para o nosso trabalho?
EA - Eu não gostaria de mencionar o seguinte facto, porque é triste constatar que nem sempre os “filhos de Coimbra” são acarinhados no que fazem. Mas devo fazê-lo para ser justo comigo e penso que em abono da cultura.
Quem – em minha opinião – melhor reflectiu e escreveu sobre a importância de Pedro e Inês no pensamento português, foi Afonso Botelho, que nasceu em Bencanta, a dois passos de Santa Clara, e que teve que ir publicar a obra fora da cidade. É claro que a história de Pedro e Inês é universal. Escritores de vários países do mundo escreveram e escrevem ainda sobre este tema.
ELP - Agradecemos muito a sua disponibilidade e rapidez a responder a estas questões. Esperamos que goste de visitar o nosso blogue!
EA - Eu é que agradeço a vossa simpatia de convidar-me para falar desta história que é inesgotável. Felicidades para o vosso trabalho e que o blog fique cada dia mais bonito e completo.
EA - Eduardo Aroso
ELP - Equipa Lágrimas de Paixão