ESPERANÇA:
A Semente do Mundo ou a Consciência Messiânica em Nós
EDUARDO AROSO
O pensador
português Agostinho da Silva dizia que preferia ter certezas do que esperança.
Compreende-se o sentido que ele dava à sua sentença. Parece, à primeira vista,
uma atitude pouco humilde, pois é habitual dizer-se que é mau alguém viver cheio
de certezas. O que o filósofo (cristão) procurava era, no fundo, um caminho
consciente, e poderíamos dizer que as certezas, neste caso, se podem comparar à
condição de um estudante esotérico com algum adiantamento, e que sabe, por
exemplo, o que o espera logo depois da morte. Um crente vulgar vive com alguma
esperança de continuar, vagamente, num local de paz, um cantinho do céu, onde
estará eternamente, e quem sabe na companhia de anjos... Se é permitido esta
imagem: a esperança é como a espiral à volta do Caduceu; a certeza a linha
vertical: mais curta e mais rápida. É claro que esta ideia de certezas não é
certamente a Verdade adquirida de uma vez por todas, pois sabemos que a sua
busca é uma constante.
A perspectiva
de ser melhor ter certezas do que ter apenas esperança, também se pode aplicar
ao tempo que vivemos nesta primeira década do século XXI – tempo que clamamos de
esperança, a todos os níveis. À maneira das descobertas científicas que apenas
num campo restrito podem, pela interacção e sinergia que provocam, alterar todo
o panorama geral da perspectiva científica (e até filosófica), também um pequeno
pormenor nos ensinamentos rosacrucianos pode permitir uma actividade mais
fecunda. Bastaria que, por exemplo, por uma sinergia astrológica, conseguíssemos
chegar a uma maneira mais eficaz de trabalhar em grupo à distância. Ou através
de uma inspiração momentânea (já para não dizer de um conhecimento adquirido,
pois é preciso merecê-lo) ajudando uma pessoa que se abeire de nós com um grave
problema – e quantas vezes isso não acontece!
Infelizmente,
as certezas são ainda poucas, e a esperança é o vento forte que a todos deve
animar, empurrando no mar da vida, quando o desânimo parece evidente. A
humanidade evolui aos ziguezagues, e, assim, o estado de ânimo colectivo, para
não soçobrar, é ciclicamente despertado pelo factor esperança. Todos os povos,
em maior ou menor grau, têm os seus mitos, verdadeiros arquétipos de força
anímica, reanimados quando chega a hora certa. A ideia de esperança está
intrincadamente relacionada com a ideia de salvação, que, no aspecto religioso,
é o mesmo que messianismo. Dos messianismos judaicos ao cristão, diversificado
este em várias figuras cíclicas e assumindo roupagens e graduações diversas
consoante o estado de adiantamento do povo a que se destina, aos chamados
“messianismos laicos”, ainda que estes sejam sempre falsos, porque cortam a
relação com qualquer conceito de divino e fazem apenas a apologia da hierarquia
horizontal. Afirmações como a de A. Neher «O Messias vem do Homem; é o que o
homem dá a Deus», ou aqueloutra do poeta-místico Frei Agostinho da Cruz «Verei o
Criador nas criaturas» podem conduzir à descoberta do eu interno, à
autoconfiança e realização das potencialidades inatas, sobretudo se partirmos da
urgência de que o Homem não pode realizar-se espiritualmente enquanto não der de
comer fisicamente a todos, ou pelo menos a uma grande maioria de todos os seus
irmãos do planeta.
Da clara
alusão ao messianismo em Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, Habacuc, e nalguns
salmos, ao Novo Testamento (cuja mensagem de Amor ainda hoje não está cumprida),
dos messianismos islâmicos «que comparam o seu Último Dia ao judaico Yom YHVH,
Dia do Senhor, às Teologias de Libertação, o que importa, neste caso e em começo
de 2003, é sublinhar o factor ESPERANÇA.
Acabo como
comecei: quem não puder viver de certezas, abrace com toda a sua alma a
ESPERANÇA. Todavia, um aspirante rosacruz deve ir substituindo a esperança pela
certeza, ou combinando as duas. Essa esperança no sentido vago, colectivo, que
ainda assim fermenta o prosseguimento da vida, substituída pelo calmo saber
esperar, a certeza do tempo em acção - a astrologia é uma boa ajuda como terapia
de tranquilidade para maus momentos. O discípulo dos Mistérios Ocidentais sabe
que o Messias (Salvador) já veio e que, com toda a certeza, pode nascer dentro
de si, se a sua conduta for espiritualmente exemplar. No fundo é o discípulo que
o faz aparecer.
Sabemos, neste
início de século e de milénio, que os “famintos da esperança” do começo do
século XX viram as suas expectativas coroadas pelo aparecimento de Max Heindel,
Rudolph Steiner, Pietro Ubaldi, Alice Bailey, entre outros, e que deram novos
impulsos às suas expectativas enquanto seres mais despertos. A secreta esperança
de alguns deu lugar a algumas certezas. Agora, numa nova volta da espiral (ou
ainda na mesma) o mundo pede soluções aos desejosos de viver os autênticos
ensinamentos da Sabedoria Ocidental, que se esforçam por encontrar, para depois
dar. Esta nossa e (nova) esperança há-de, mais ou menos rapidamente, dar lugar à
certeza de estarmos, com segurança, no caminho certo, sobre o esforço que outros
semearam. Mas no caminho dinâmico, esse «que se faz caminhando», esse em que os
peregrinos sinceros e sacrificados encontram a força do Espírito Santo que,
tantas vezes, aparece com nomes diferentes e em cenários pouco
ortodoxos.
CONNECTIONS : Essays and Poetry by Elsa M. Glover
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