O FINAL DA ERA DE PEIXES E A SENSAÇÃO PSICOLÓGICA DE TEMPO
Há um tempo de nascer, e um
tempo de
morrer;
.....................................................................
um
tempo de procurar, e um tempo de perder.
Eclesiastes,
3
Parece que ao
homem actual muito custa integrar no seu ciclo de vida individual a sentença do
Eclesiastes sobre a problemática do tempo. Este tem intrigado os homens de todas
as eras: dos sábios do passado aos cientistas quânticos do presente. Espaço e
tempo, um e outro a humanidade tem tentado penetrar. Mais simples de análise e
interpretação é o primeiro. Intrincados os dois, mais difícil se torna ter plena
consciência do segundo.
O tempo dos
filósofos, o tempo dos cientistas, o tempo poético... tudo parece não coincidir,
pelo menos no plano subjectivo. Quiçá a maior das constatações é a de que o
tempo mais verdadeiro parece ser o subjectivo. Disso temos exemplos triviais
como os de momentos agradáveis, tão velozes, e de horas infelizes que demoram
tanto a passar. Perante isto, logo se deduziu sobre a relação com esses estados
de espírito de prazer (alegria) ou de dor (tédio).
Aqui
poderíamos introduzir o primeiro ponto de meditação: na medida em que o ser
humano equilibre o tal «pêndulo da alegria e da dor», mais ele se torna senhor
do tempo, pelo menos do seu tempo interno que é, efectivamente, cronómetro do
seu caminho - de vida para vida se pode adiantar ou estancar na evolução,
precisamente por essa consciência interna individual. O domínio do tempo interno
leva à libertação do tempo externo ou objectivo.
Doutro modo,
pode-se experimentar uma vivência muito objectiva de tempo, quando alguém, entre
um grupo de pessoas mais ou menos sintonizadas, pretende fazer isto ou aquilo em
menos tempo, bater o tal record! Esta é uma situação que cria tendência para nos
colocarmos numa mesma frequência vibratória, pelo menos quanto a um certo
ambiente envolvente. Aqui podemos entrar noutro ponto de meditação: faixas
vibratórias diferentes tenderão a criar noções relativas de
tempo.
A capacidade
de nos concentrarmos e meditarmos serenamente, utilizando tanto a razão como o
sentimento, pode levar-nos a esse santuário interior, verdadeira antecâmara
dando passagem, quando o merecermos, à consciência da quarta região onde estão
os arquétipos e o tempo é um eterno-agora. Sabemos que, em condições esporádicas
isso tem acontecido, em diferentes graus, a alguns egos - no campo da ciência
(Kekulé) da arte (Kandinsky, Mozart, Beethoven) e da mística (Teresa de Ávila,
A. Silesius, Hildegard von Bingen) e da poesia (Fernando Pessoa, W. Blake ), só
para referir uns poucos.
Na astrologia
podemos relacionar tempo objectivo (externo) e subjectivo (interno) naquele já
velho intrincado problema de conjugar sabiamente os trânsitos e
progressões.
Consideremos
agora dois aspectos que parecem ser notados por toda a gente. O primeiro reside
nesta coisa tão simples: quando somos jovens temos a sensação de que o tempo não
anda, queremos ser adultos, sentimos que ainda lá não chegámos, o nosso mundo
tende para, e queremos caminhar para uma realidade que nos parece ser mais
verdadeira. Pelo contrário, depois da meia-idade, quando temos a certeza que
provámos o sentido de ser adulto, o tempo foge-nos, sentimos que corremos
depressa para a velhice. E, quanto mais o queremos travar, mais velocidade toma!
Parece acontecer que tocar o tempo, na meia-idade, época em que temos o sentido
objectivo e activo da vida, ele nos começa a escapar. Passou aquela mágica
sensação do tempo de infância, dilatado para tudo e para todos, o tempo uno, sem
estar ainda dividido para isto ou aquilo. É o todo sobre a parte, ainda algo da
consciência mais abarcante dos mundos superiores sem ter entrado completamente
nos horizontes estreitos do mundo das formas. Este pungente fenómeno que em nós
se opera estará relacionado, provavelmente, com a natureza que o ego tem sobre o
seu presente ciclo de existência. Esta ideia remete-nos imediatamente para um
conceito de tempo muito arredio do mundo ocidental - o ciclo em espiral, ao
invés de uma medição em linha recta.
Vejamos outro
exemplo trivial que pode completar mais a compreensão deste fenómeno. Quando,
lentamente, abrimos uma torneira e começamos a encher de água um jarro
transparente, nos primeiros momentos, enquanto está vazio ou ainda com pouco
líquido, temos a sensação de que ainda falta muito, o que é verdade. À medida
que vai enchendo, invade-nos o está quase. Mais um pouco, e pronto! Os últimos
segundos são como que de maior velocidade (se não temos que fazer esforço,
repare-se!). Pelo contrário, a um atleta que está quase a atingir a meta
parecem-lhe intermináveis os últimos segundos, pois o esforço exigido é muito
maior. Há aqui duas sensações que se cruzam, no prazer ou na dificuldade, no
final de um prova ou num final de um ciclo, tendo como constante o está
quase!
Portanto, pode
acontecer uma das duas situações e mais outra já pouco falta! Para fazer jus ao
título deste escrito, parece haver, neste também vertiginoso quase final da Era
de Peixes, esta situação - o tempo parece fugir-nos, mas, tal como o
maratonista, com alguma dor. Faltam poucos metros e um último esforço a fazer
para chegar... Não é necessário irmos para experiências científicas tipo
laboratório, (o homem todo é o melhor laboratório) para sentir que esse pouco
falta é uma espécie de “colapso do tempo” que hoje se vive, essa problemática
mundial ou ferida de alma que chega a todo o lado. Apesar da quantidade de
informação e de inúmeras solicitações exteriores, sentimos que tudo voa. Estamos
globalmente numa mesma faixa vibratória, ainda que ampla. Um autor, que agora
não nos lembra, escreveu um artigo interessante sobre as relações que parece
existir entre a sensação de tempo e a metabolismo humano
Sob o ponto de
vista astrológico é talvez a “excentricidade” de Urano, o desbravador da
consciência, que nos retirou de uma certa estabilidade saturnina. É curioso
observarmos como este último planeta rege tradicionalmente o tempo objectivo, o
tic-tac dos relógios, a regularidade do cronómetro. O impacto uraniano jorra
luz, estonteante a princípio. O episódio de Paulo, na estrada de Damasco, pode
ser interpretado como uma intensa descarga uraniana num ego preparado para tal,
e que depois fica transformado. Pode ser que a descoberta do tempo subjectivo
naquele mar de luz que rodeou Paulo, fosse uma espécie de primícia do novo tempo
que virá para todos nós.
Felizmente,
estamos quase no fim do time is money. Agostinho da Silva dizia que «o tempo
dá-o Deus de graça!» É a mesma lógica quando afirmamos que a água das nuvens e a
luz do Sol dá-as Deus de graça, ainda que com sacrifício de outras
Entidades.
Estamos a
ficar sem tempo ao mesmo tempo que estamos a ganhar um certo tipo de vista para
perceber tanta luz. De cada vez que Cristo regressa à Terra, pelo Outono
(hemisfério norte) traz mais luz. Quando sai, pela Páscoa, é como se nós -
instrumentos no caminho da perfeição - fôssemos mais preparados para perceber a
luz. A nossa gratidão ao Maior Guia Espiritual da humanidade deveria ser
ilimitada. Quanto maior é a luz, maior é a sombra – eis a nossa dor actual, como
o cego que pelo tacto sabe dos objectos, mas não os pode ver. Ao fim e ao cabo é
melhor ter luz do que ter tempo! O tempo dispensa-se porque é a
sombra.
- Eduardo Aroso
CONNECTIONS : Essays and Poetry by Elsa M. Glover
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