Na Terra dos Mortos que Vivem

Prentiss Tucker  

 

CAPÍTULO VIII

 

UM ESTUDO DAS AURAS

 

Jimmie não dormiu mais aquela noite. Permaneceu acordado, ponderando sobre as coisas que tinham acontecido e, gradualmente, teve a convicção de que a maior de todas as lições não lhe havia sido relatada, mas havia sido deixada para que a descobrisse por si mesmo.

Começou a raciocinar. Por que havia sido escolhido e presenciado tantas coisas maravilhosas? Não foi para gratificar sua curiosidade, isto era certo. Não foi para que, de vez em quando, pudesse consolar alguém pela perda de um ente querido, embora este fosse, sem dúvida, um dos propósitos menores. Qual poderia ser a grande idéia que estava incluída em tudo isso?

Não era porque ele podia curar os doentes, embora o Sr. Campion tivesse explicado muito sobre a cura das doenças físicas ao trabalhar sobre o corpo vital. Não era para que pudesse contar a história de suas aventuras na Terra dos Mortos que Vivem, pois havia sido especialmente advertido a não fazê-lo, uma vez que experiências espirituais não admitem repetições e, além disso, foi-lhe dito que as pessoas não acreditariam nele.

Recordava que o maior Curador que jamais existiu, até onde podia lembrar-se, nunca se afastou de Seu caminho para curar. Havia curado muitos, é verdade, mas somente, por assim dizer, incidentalmente, curando só aqueles que O haviam procurado e cujos pedidos foram mais ou menos insistentes. Sendo assim, o que deveria de fazer? Para que grande Propósito havia sido instruído?

Curar não era a grande razão, como também não o era confortar os aflitos. Educar sua própria personalidade como um fim em si mesmo estava fora de cogitação - pois nisto estaria envolvido o elemento egoísmo. Devia ser algo que ele precisava transmitir a outros - isto tornava-se claro para ele - assim, começou a raciocinar por analogia.

Suponhamos, pensou, que fosse um homem rico, o que poderia fazer com seu dinheiro para conseguir um bem maior? Poderia dar dinheiro aos necessitados; por outro lado, dar dinheiro aos necessitados nem sempre é sábio. Pode causar mais problemas que resolvê-los.

Poderia construir fábricas e dividir o lucro com os empregados. Isto seria melhor. Assim estaria ajudando os outros a se ajudarem. Quando Cristo esteve na terra Ele realizou muitos milagres e o Poder que pode multiplicar alguns pães e peixes até serem suficientes para alimentar milhares de pessoas, poderia, sem dúvida transformar pedras em ouro. Por que então, Cristo não terminou com a pobreza dando ouro a todas as pessoas pobres que Ele encontrou?

Cristo, raciocinava Jimmie, avaliava a matéria do ponto de vista do grande Espírito Solar que Ele era. Sabia que estas pessoas eram espíritos em evolução, cujo progresso - desde a dor e a infelicidade dos estágios inferiores da evolução até a grande alegria, felicidade e o esplendor das esferas superiores - dependia somente do progresso espiritual e nunca, de forma alguma, do acúmulo de dinheiro ou de prosperidades. Sabia que o progresso espiritual é mais freqüentemente retardado pelas posses que, estando à disposição e sendo consideráveis, parecem a seu dono as coisas mais preciosas que a vida tem a oferecer. Por essa razão, Ele deu-lhes o que realmente tinha maior valor - ajuda, estímulo e ensinamentos dentro de determinadas linhas de conduta que, se observados, proporcionaram a única recompensa real e permanente. Em outras palavras, Cristo ajudou Seus seguidores a se ajudarem através do caminho da realização espiritual.

Esta vida, percebia Jimmie, tomada como um todo desde a primeira diferenciação do espírito individual dentro do grande ser de Deus antes de começar sua longa peregrinação, até o dia final da libertação quando o aspirante pode pronunciar as palavras gloriosas: “Está consumado”, assemelha a uma escola onde aprendemos nossas lições. A mesma lei rege os dias do nosso período escolar, isto é, ninguém pode aprender nossas lições por nós. Um mestre só pode ajudar, incentivar, conduzir e apontar o caminho. A aquisição verdadeira do aprendizado deve advir do trabalho realizado por nós mesmos.

É um fato real que a criança na escola pode ser forçada a estudar por medo ao castigo; perguntas e exames podem demonstrar até onde ela se aplicou. Mas a punição e o temor que a acompanha não levam a nada, exceto estimular uma mentalidade indiferente ou preguiçosa. a conhecimento adquirido deve ser o resultado do próprio esforço da criança, independente do incentivo que a tenha motivado.

Assim, prosseguindo na analogia, progresso espiritual, para a maioria da humanidade, é o resultado do trabalho de seu próprio espírito, uma vez que eles ignoram totalmente que estão na escola e desconhecem a lei do crescimento espiritual. Por essa razão, estão destituídos do verdadeiro incentivo espiritual que os conduz ao progresso.

A educação de uma criança que estuda somente sob ameaça de punição, é de qualidade muito pobre, insuficiente comparada àquela obtida por quem sabe que está recebendo um treinamento que o ajudará a progredir no mundo e, conseqüentemente, esforça-se por estudar e ajudar o professor. Mas esta educação, embora seja superior à primeira, fica ainda num estágio inferior comparada àquela obtida pela criança que tem uma verdadeira sede por conhecimento e que não precisa do chicote do medo, nem do incentivo próprio para prosseguir.

O mesmo acontece com o crescimento espiritual. No início é alimentado pelo medo - medo da morte, da eternidade e todos os outros temores que operam na humanidade.

Este estágio de crescimento espiritual é excessivamente lento e, vida após vida, demonstra muito pouco adiantamento. Quando o motivo é o interesse próprio, o progresso é um pouco mais rápido. Contudo, somente quando o “Eu” é esquecido e o homem trabalha por amor é que o progresso advém mais rapidamente. Então consegue alcançar o estágio descrito na parábola do Filho Pródigo, o qual estando ainda muito longe, foi avistado pelo Pai que saiu ao seu encontro.

Jimmie ponderou todos esses fatos com cuidado. O grande propósito não era a cura ou o consolo. Estes eram sub-produtos, por assim dizer. O grande propósito devia estar ligado a ajudar as pessoas a se ajudarem. A chave do problema evidentemente estava escondida aí.

Mas, como ajudar os outros a se ajudarem? O progresso espiritual pode obter-se como a educação, somente pelo esforço do próprio espírito. Mas a realização, quando feito somente sob o incentivo da lei de compensação e quando o resultado não é incorporado ao espírito até depois da morte, é muito lenta.

A criança na escola, mesmo que não queira aprender, pode ver e compreender geografia e o livro de alfabetização, cujas listas de nomes e palavras precisa decorar. O espírito, aprendendo sob o chicote das grandes Leis Gêmeas - de Renascimento e de Conseqüência - não compreende e está apenas aprendendo cegamente.

Um conhecimento das leis de Renascimento e de Conseqüência seria de grande ajuda para muitos. Mostrar-lhes-ia o que estavam fazendo e o por que desse procedimento e, em muitos casos, aceleraria maravilhosamente o progresso espiritual.

Jimmie sentiu que esta não era a verdadeira resposta ao seu problema, mas também avaliou que era um começo em direção à resposta e tinha a certeza de que, se fizesse o melhor para divulgar o conhecimento que havia adquirido - não os detalhes de suas aventuras mas o grande fato de uma grande e maravilhosa vida espiritual acompanha-nos e rodeia-nos o tempo todo, e que ao morrermos simplesmente passamos do nosso invólucro físico para uma gloriosa liberdade - se fizesse o máximo para divulgar este parapeito, bem perto de onde esse homem estava. Ele não se mexeu nem disse nada, mas permaneceu tão calmo como se fosse um veterano de vinte anos de trabalho nas trincheiras. Mas pareceu a Jimmie, que o observava, que ele de repente estava envolto em uma nuvem cinza, como por uma névoa. Isto foi modificado por uma considerável cor escarlate ao redor da cabeça, o que demonstrou que o homem estava com medo, embora fosse o medo de um homem corajoso, pois também sentia-se desgostoso consigo próprio por estar com medo. Mostrava também que, embora o homem sentisse medo, mesmo assim possuía perfeito controle sobre si mesmo e não se permitia mostrar esse temor, o que provou a Jimmie ser ele um dos mais corajosos entre os corajosos.

O primeiro vislumbre que Jimmie teve da aura não foi muito claro. Ele teve a impressão que seus olhos repentinamente se anuviaram por um pouco da umidade que, acreditava, podia explicar a existência da névoa cinza, mas a aparição do escarlate o confundiu. Por vários dias essa visão não se apresentou a ele, mas depois, ela tomou-se cada vez mais freqüente, especialmente após compreender o que ela realmente era e começou a prática de poder usá-la. Mais tarde descobriu que podia olhar para os homens e determinar se estavam com medo ou não; se estavam irados ou não, e até que grau.

E mais tarde ainda, começou a reconhecer a diferença entre a aura e o corpo vital, o que não conseguia distinguir no início, exceto que sabia que a aura ficava consideravelmente fora do corpo vital em sua extensão.

Durante sua viagem, ele havia exercitado sua faculdade nascente nos membros da tripulação e naqueles com quem, tinha a certeza, jamais se encontraria posteriormente. No entanto, isto tinha sido insatisfat6rio, pois os membros da tripulação não demonstravam muita variedade na cor de suas auras e a cor que possuíam, era geralmente de uma variedade turva e confusa. Mesmo quando ocorriam pequenas brigas entre eles, jamais mostravam o puro escarlate, mas só um vermelho pardacento, sujo, bastante mesclado com outras cores.

 

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