Na Terra dos Mortos que Vivem
Prentiss Tucker
CAPÍTULO VII
AJUDANDO
UM SOLDADO MORTO A CONSOLAR SUA MÃE
O Sr. Campion virou-se para ele com um sorriso:
- Vejo que não se esqueceu de como “deslizar”, assim, começaremos nossa
viagem.
Começaram imediatamente a movimentar-se com tremenda rapidez. Jimmie
segurava a mão do Sr. Campion e percebia, à medida que avançavam, que havia um
grande número de pessoas viajando como eles pelo ar, fato que não tinha
observado em sua primeira visita à Terra dos Mortos que Vivem. Movimentavam-se
em todas as direções alguns mais rapidamente, outros mais vagarosos, alguns
simplesmente vagando e aparentemente dormindo. Seu próprio deslizar era tão
rápido que simplesmente formulou uma nota mental do fato, esperando, mais
tarde, perguntar sobre isso ao Sr. Campion.
Em menos tempo do que o necessário para descrever isto, eles
encontraram-se na linha de batalha na França e pararam defronte a um pequeno
abrigo subterrâneo, dentro do qual vários homens conversavam. Jimmie reconheceu
um como o soldado alto que ele havia conhecido no local “Y”. De sua conversa
deduzia-se que eles iriam participar de um ataque que aconteceria dentro de um
ou dois dias. Estavam discutindo sobre as condições “post-mortem”, se é que
isso existia. Mas estavam discutindo isto de uma maneira muito estranha...
parecia que tentavam ocultar, sob um disfarce de escárnio, uma verdadeira ânsia
por informações.
Um dizia:
- Não acredito que a morte seja o fim de tudo mas não me parece que
tenhamos uma noção exata acerca disto. Lembro-me de um antigo hino que escutei
em um culto religioso. Não me lembro exatamente como era, mas dizia algo assim:
“Em um momento minha alma aqui estará;
No pr6ximo, além das estrelas se encontrará.”
- É certo que algumas vão, não será assim?
- São Pedro não seria capaz de formular uma pergunta a alguém tão rápido!
- Além disso, a pessoa estaria indo em tal velocidade que passaria direto
pelo céu e se encontraria no outro lado antes que pudesse parar.
- Estaria sem sorte, não? Mas não acredito que a pessoa que escreveu esta
canção soubesse alguma coisa. Não acredito que as pessoas se transformem assim,
quando morrem. Olhe o Johnson. Ele é tão vagaroso que não é possível fazê-lo
sair de seu ritmo e acreditam que ele viraria um foguete se morresse? Não
senhor! Jamais alcançaria uma tal velocidade. Levaria uma semana para perceber
que estava morto. Suponho que quando um homem morre, permanece como se
estivesse encantado e depois vagarosamente segue adiante.
- Para onde?
- Não sei. Provavelmente onde tenha alguns negócios. Alguns gostariam de
ir para o céu e tocar harpa, outros não. Para mim, nunca toquei harpa e não
consigo cantar, então, acho que preferia ficar sem fazer nada e ver como as
coisas se desenrolariam.
- Talvez você não pudesse. Suponhamos que estivesse destinado para algum
lugar e um sujeito corpulento fosse atrás de você empurrando-o com um forcado
para que não parasse.
- Não, não acredito nisso. Não acredito em nenhum demônio. Ouvi alguns
ingleses contar coisas que viram à noite, quando a guerra começou e eram
completamente diferentes disso.
O soldado inquiridor, com quem Jimmie conversara, interrompeu a discussão
dizendo:
- Creio que um tenente com quem conversei algumas semanas atrás tinha a
explicação certa. Ele disse que n6s tínhamos vivido antes e que voltaríamos a
viver e que, depois de morrer, continuaríamos a ser a mesma espécie de homem
que éramos antes. Naquele momento pareceu-me tolice, mas quanto mais penso no
assunto, mais acredito que ele estava certo.
Aqui, o Sr. Campion afastou Jimmie.
- Temos tão pouco tempo - ele disse - que precisamos aproveitá-lo.
Percebeu que a semente que você plantou e que pensou estar perdida, realmente
germinou? Faz com que o homem começasse a pensar. Mais tarde se ele entrar em
contato com os ensinamentos ocultistas, não será uma novidade para ele e estará
pronto para levá-los em consideração.
Avançavam rapidamente enquanto o Sr. Campion falava e este mal havia
concluído sua explicação quando chegaram a uma sala onde um casal idoso,
evidentemente marido e mulher, estava sentado. Já era mais de meia-noite mas
eles não pareciam ter sono. Um envelope oficial sobre a mesa contaria a
hist6ria desse momento, mas não havia necessidade disso ao observarmos o casal.
A mulher chorava dolorosamente e o homem permanecia em silêncio, embora as
lágrimas deslizassem por sua face. De pé, a um lado, via-se um soldado em seu
uniforme rasgado e sujo, com uma série de buracos de balas em seu peito, onde
uma metralhadora, evidentemente, havia causado isso. Estremecia de dor e contraía-se
quando a mulher chorava, esticava seus braços para ela e chamava-a “mãe”, mas
ela não ouvia.
O Sr. Campion aproximou-se do soldado.
- Amigo, ele disse, e Jimmie pensou nunca ter ouvido uma voz tão bondosa.
O soldado virou-se para ele.
- Não posso fazer com que ele me ouça. Se ela soubesse que estou vivo e
não... não... estou sofrendo! Ela acha que eu estou morto! Mas eu não estou.
Estou tão vivo quanto antes, mas não posso fazer com que ela me ouça!
- Amigo!
Novamente aquela voz suave parecia mudar as vibrações tensas existentes
naquela sala.
- Na verdade, você não está morto, mas deixou de lado seu corpo carnal e
eu posso ajudá-lo. Ouça-me e faça exatamente o que eu disser:
- Imagine-se em um uniforme limpo, novo, sem ferimentos e sinta-se feliz.
Tente imprimir esse pensamento na mente de sua mãe.
Lentamente, enquanto Jimmie observava a cena, o uniforme rasgado e sujo
ficou limpo, os ferimentos de bala desapareceram, o rosto do homem perdeu as
linhas de dor que o marcavam. Olhou-se e deu um suspiro de surpresa.
- Agora, disse o Sr. Campion - pense em você sempre limpo, feliz e
continue dizendo a ela “Eu a amo, eu a amo!” e depois de algum tempo, quando
ela for dormir, poderá falar-lhe, pois nessa ocasião, ela deixará o corpo por
um bom tempo. Depois, tente fazer com que ela perceba que você está vivo, bem,
e que a ama. Amor é a força maior em todo o mundo e, com o tempo, conseguirá
aliviar a dor dela. A noite, enquanto ela dorme, você poderá ficar ao seu lado
para conversar.
O soldado dirigiu-lhe um só olhar, mas este manifestava tanta gratidão e
respeito que nenhuma palavra poderia ter expressado melhor esses sentimentos.
Começou a seguir suas indicações.
Jimmie e o Sr. Campion retiraram-se para um canto enquanto o soldado,
forçando um sorriso em seus lábios, continuava repetindo a fórmula,
debruçando-se sobre a mulher, enquanto ela soluçava.
Gradualmente, os soluços foram parando e um olhar de paz surgiu em sua
face.
- Henrique, - ela disse ao marido - está tudo bem com ele, estou
sentindo. Ele está vivo e bem.
Novamente o Sr. Campion pegou Jimmie pelas mãos e começaram a viajar.
Desta vez, estavam voltando para o navio. Jimmie encontrou-se exatamente sobre
a embarcação e viu em uma pequena cabine, seu próprio corpo que dormia
tranqüilamente.
A lua achava-se no poente e, para a visão física, a superfície do oceano
estaria escura. Mas aqueles que viajam pela Terra dos Mortos que Vivem não
precisam de sol durante o dia, nem são molestados pela escuridão da noite.
As leis naturais regem todo o cosmos, o que é uma outra maneira de dizer
que Deus reina em todos os lugares. Mas a ação de certas leis naturais diferem
nos diferentes mundos, e aqueles que se encontram de repente projetados nos
reinos mais elevados do ser, freqüentemente estão propensos a sentir-se muito
surpresos pelas coisas que vêem e ouvem.
Jimmie contemplou a linda visão que se estendia abaixo dele, onde o
grande navio navegava suavemente pelo oceano tranqüilo, rodeado pela
interminável extensão das águas, sempre em movimento, que correm de horizonte a
horizonte, sem nenhum olho humano observando a lenta dignidade de suas vagas à
medida que se levantam como poderosos gigantes, formando um bonito rendilhado
espumoso para em seguida se desfazerem.
- Jimmie - disse seu companheiro enquanto pairavam no ar - algum dia irei
levá-lo a uma verdadeira viagem através do espaço e do tempo, e irei
mostrar-lhe a antiga Atlântica e as coisas que aconteceram lá muito antes do
início da história. Lemos contos e romances de ficção, mas afirmo que nenhum
livro pode transcrever as coisas maravilhosas que aconteceram naquela estranha
e antiga terra sobre a qual estas ondas também passaram. Agora, vamos para sua
cabine.
Desceram suavemente e entraram na cabine onde Jimmie pôde observar seu
corpo que respirava calmamente enquanto dormia.
- Que coisa incrível, não é?
- O que? - perguntou o Sr. Campion.
- É estranho o que acontece! Lá estou eu, respirando tão regularmente
quanto um relógio, e aqui estou eu, fora dele e desligado, como você podia
dizer, mas, ao mesmo tempo, funcionando tão bem como sempre.
- Esta visão pode ajudá-lo a compreender que o corpo é só um instrumento
para ser usado por “você”, que está agora diante dele. Mais tarde, irá entender
que o “você” que está aqui é somente um instrumento de um “você” ainda mais
elevado.
- Eu me pergunto - disse Jimmie pensativamente - se eu ficaria sabendo
disto se este navio tivesse sido torpedeado e meu corpo se afogasse enquanto eu
permanecesse fora dele.
- Com certeza você saberia se isso acontecesse, mas, como eu tinha
conhecimento de que nada disso ocorreria, vim buscá-lo. Mais tarde, pretendo
ensinar-lhe a deixar seu corpo quando desejar.
- Eu não deixei meu corpo hoje a noite?
- Não, não como eu quero dizer quando menciono deixar o corpo. Todos
deixam o corpo no sono. Você deixou o seu depois de adormecer e depois você
acordou. Mas você não deixou seu corpo conscientemente. Se o tivesse feito,
teria encontrado o Guardião do Umbra1.
- O que é isso?
- A soma do mal de suas vidas passadas. Mas existe uma coisa a mais que
quero explicar agora, em vez do Guardião. O que você notou em particular, sobre
o soldado que estava tentando fazer com que sua mãe o ouvisse?
- Bem... eu não sei. Deixe-me ver, ele havia sido morto por uma
metralhadora não?
- Não. Quero dizer que lição você pôde tirar daquilo? Todas as vezes que
você sai em uma viagem pela Terra dos Mortos que Vivem, não é para satisfazer
seu amor pela aventura, mas para aprender uma lição. Todas as vezes no futuro,
quando for capaz de “viajar” sozinho, deve estar realmente atento para aprender
uma lição. Mostrei-lhe o soldado inquisidor com um propósito, e levei-o para o
outro lugar, também com um propósito.
Depois disso, terá que descobrir as lições por si mesmo, pois grande
parte do bem que produzem é decorrente do trabalho que proporcionam e do
pensamento e concentração empregados para alcançá-lo. Desta vez, para
mostrar-lhe o que quero dizer e para iniciá-lo da maneira correta, vou ajudá-lo.
- Você precisa procurar as grandes pequenas coisas, e não as pequenas grandes
coisas. Realizou uma viagem maravilhosa, daquelas invejadas até por reis, como
as que costumávamos ler em contos de fadas ou nas histórias das Mil e Uma
Noites. Uma coisa espetacular se houvesse alguém para contemplá-la, mas esta
viagem não teve maior importância comparada a um número de pequenas coisas que,
aparentemente, você não percebeu.
- As coisas que você precisa procurar são as que enfatizam grandes
verdades, coisas que são verdadeiras para todos. A viagem, de certa forma, foi
ótima, mas foi ótima só para você. Se saísse pelo mundo contando sua
maravilhosa viagem, as pessoas não acreditariam na sua palavra, e mesmo que
acreditassem, que conseguiria com isso? Do ponto de vista do espírito
evolutivo, nada teria realizado.
- Porém, fixemo-nos em uma das pequenas coisas que você percebeu, mas que
não o impressionaram porque não estava atento a essas coisas. O fato simples do
soldado estremecer e contrair-se quando a mãe chorava, considere esse fato e
pergunte-se: Por quê? Por que ele agiu como se alguém o tivesse atingido com um
chicote? Não seria perfeitamente natural que ela chorasse? Se ela tivesse
gargalhado ou sorrido ele não teria motivo justo para ressentir-se como se ela
estivesse alegre por ver-se livre dele? Bem, a chave está nisto: ele sabia,
pelo fato de estar mais sensível aos pensamentos dela do que quando estava no
corpo físico, que ela tinha um medo subconsciente de que a morte é o fim de
tudo e de que, uma vez morto, ela o perderia para sempre. Isto foi o que lhe
causou tanta dor. Foi por isso que ele estremeceu e contraiu-se.
Ele sentia-se vivo e sabia que estava vivo. Estava em outro plano de
existência, mas estava vivo e não morto. Se pudesse transmitir-lhe isso,
apresentar-se a ela apenas por um momento, como ser vivo, ela relaxaria a
intensidade de sua dor, a morte teria sido despojada da metade de sua
repugnância, não, mais de metade, de nove décimas partes. É essa a lição, o que
você deduz disso?
Jimmie hesitou, olhando seu corpo que dormia na cama. Não estava seguro
de qual seria a lição. Porém, o Irmão
Maior não lhe deu muito tempo para refletir, pois ele começou novamente:
- Para descobrir em que consiste a lição, será fácil se você for
metódico. Extraia da situação as verdades permanentes, universais. Existe um
filho que foi morto, uma mãe que sabe que ele foi morto, essa mãe demonstra uma
dor perfeitamente natural, você tem (pois está capacitado a ver dos dois lados
do véu) você tem a aflição natural da mãe, a qual causa ao filho (invisível
para ela) uma enorme tristeza. Estas coisas são universais, assim como o é a
morte, pois no caso que estamos considerando, a maneira da morte do filho não é
o que importa. Observamos, realmente, que a dor profunda e desesperada causa
sofrimento aos mortos. Também observamos que as lamentações dos familiares e
amigos causa-lhes grande dor e desvia-lhes a atenção das novas condições que os
cercam, o que atrasa sua evolução. Uma vez que a intensidade peculiar destas
lamentações é causada pela crença ou temor dos vivos de que a morte é o fim de
tudo, existe um sofrimento totalmente inútil, proveniente da ignorância, que
está prejudicando tanto os mortos quanto os vivos. Está ficando mais claro?
- Sim, de certo modo. Posso ver onde a dor perturba os mortos e como os
vivos sofrem muito mais do que precisam sofrer, e tudo por causa da ignorância.
É esta a lição?
- Em parte, mas só em parte. Por outro lado, o sofrimento lá é muito
maior do que no lado de cá porque não é amortecido pela carne, por isso, o
homem morto sofre muito mais do que o necessário. Aqueles que ficam também
sofrem muito e desnecessariamente, porque não sabem que a morte não é o fim.
Mas existe um lado positivo. Além de sofrerem desnecessariamente, não sentem a
alegria que deveriam ter se conhecessem os fatos reais do acontecimento. A mãe
que pranteia seu filho, se pudesse vê-lo na insuperável bênção do mundo
celeste, talvez ainda se afligisse, mas sua aflição seria por ela, não por seu
filho. A morte é, em muitos casos, uma promoção, não uma perda; um benefício,
uma recompensa, algo pelo qual devemos ser gratos. Precisamos livrar-nos da
antiga concepção, que ainda está arraigada em muitos, que a morte significa
permanente cessar da atividade física.
Mas há uma consideração anterior a ser feita. Na morte normal, não resultante
de um acidente repentino ou de batalha, a alma revê os eventos da vida passada
e é esta revisão que forma a base real de nosso progresso na evolução.
Referi-me a isso quando conversamos longamente na Rue de la Ex. Lembra-se que
discorri sobre a memória subconsciente, uma propriedade do corpo vital e
etérico, que é impressa no corpo de desejos na morte enquanto a alma está
revendo a vida passada. Esta impressão forma a base para a vida tanto no
purgatório como também no céu. Quando a atenção da alma que passa é desviada
por lamentações daqueles que foram deixados para trás, o registro não é
impresso no corpo de desejos, e a vida tanto do purgatório como a do céu
resultam ambas falhas em seu verdadeiro propósito e, até certo ponto e na
devida proporção, a vida passada do homem é perdida. Vimos como os mortos são
afetados pela dor dos vivos, não a tristeza serena da ausência, mas a
demonstração emocional do desespero. Esta é uma lição delineada para você. No
futuro, onde quer que sua vida de serviço o conduza, faça tudo que estiver ao
seu alcance para explicar estes fatos, às pessoas, de modo que, com o tempo,
esta terrível injustiça para com os mortos cesse. Tudo que puder fazer neste
sentido será louvável, pois estará ajudando a evolução e colaborando para que o
grande Dia da Libertação fique mais próximo.
- Qual a outra lição a que se referiu?
- Mostrei-lhe uma; creio que recordará melhor a outra se a buscar
sozinho.
- Mas eu não compreendo como a memória subconsciente é impressa. Disse
que ela é a base para a vida no purgatório e, que de acordo com a intensidade
da vida do purgatório, assim será a extensão de nossa conquista sobre nosso
passado?
- É exatamente isso.
- No entanto, nas mortes que observei deste lado da linha, não houve
nenhuma revisão da vida passada. O Sargento Strew, por exemplo. Quando foi
morto, ele simplesmente saiu de seu corpo e lá estava ele. Não houve lamentação
ao seu redor e ele não parou para pensar em sua vida passada. Por que sucedeu
assim?
- Porque não foi a maneira normal de morrer. A natureza planeja que após
a morte haja uma revisão das atividades e dos erros passados, e a vida no
purgatório e no céu baseia-se nessa revisão. Normalmente é esse o esquema da
evolução, mas o homem, com sua divina prerrogativa de livre-arbítrio e escolha,
muitas vezes estraga os planos da natureza, temporariamente, lógico. Normalmente
o homem não tem intenção de morrer por violência ou por acidente. A morte nos
campos de batalha ou em algum acidente que tira repentinamente o Ego de um
corpo jovem e vigoroso, não é o método normal planejado para a raça. Isso
interfere com a revisão. A morte por queimadura, como acontece algumas vezes em
uma casa ou em um acidente de carro, pode amedrontar e excitar a alma de tal
modo, que por um longo período de tempo depois da ruptura verdadeira do cordão
prateado e depois que a revisão se tornou impossível, a alma ainda está
desesperadamente reagindo ante a cena de sua violenta separação do corpo físico.
- Para aqueles que morrem de comoção por explosão, a revisão é geralmente
impossível. No caso do Sargento Strew, ele foi separado de seu corpo
imediatamente e não teve consciência do fato, mas mesmo que tivesse, a
violência das vibrações do momento impediria essa revisão, mesmo sem a
interferência de parentes. Lembre-se que ele viu você imediatamente, e mal
havia terminado de o cumprimentar quando excitou-se ao ver os soldados mexerem
em seu corpo. Contudo, mesmo que você não estivesse lá, não teria havido
nenhuma revisão, devido à morte súbita, praticamente acidental. Também as
vibrações muito dolorosas que geralmente pairam ao longo das linhas de batalha,
e outras diversas razões, que agora não vou enumerar, contribuem para isso.
Compreenda como a morte por acidente, violência, ou em batalha é desastrosa,
uma vez que interfere no processo normal da Natureza. Contudo, a Natureza é
muito poderosa para ser contrariada. Os cursos naturais podem ser alterados e
desviados da normalidade, mas não podem ser violados a longo prazo. A Natureza
utiliza-se inclusive das anormalidades para alcançar seus objetivos, de modo
que quando se totaliza uma conta, pode parecer que o que seria uma vida
desperdiçada, não o foi de maneira nenhuma, porque todos os seus componentes
foram utilizados. Então, no grande universo de nosso Pai, encontramos a
evidência mais maravilhosa de sabedoria por todos os lugares, sabedoria sem
limite, sabedoria cujas alturas não podemos medir e cujas profundidades não
podemos sondar. "
Jimmie estava olhando para seu amigo enquanto este falava e teve uma nova
visão de suas experiências neste maravilhoso país. Pôde ver o corpo-alma de um
Mestre enquanto envolto em adoração na Divina Sabedoria e no amor pelo Divino
Criador.
Indescritivelmente brilhante era esta linda visão. A pequena cabine
resplandecia com a glória que a enchia e com o fulgor da intensa luz projetada
em variados tons, desde o puro branco até o violeta. No centro deste
maravilhoso esplendor estava o corpo etérico do homem, tendo a cabeça inclinada
como se rezasse.
Despreparado para esta visão, Jimmie cambaleou até a parede e pouco
faltou para cair de joelhos, mas subitamente lembrou-se das palavras proferidas
pelo anjo diante de circunstâncias semelhantes: “Não faça isso.” Por isso, não
prostrou-se em adoração, mas permaneceu em reverência e admiração à medida que
a glória começou a desvanecer-se e seu amigo, familiar novamente, olhou-o e com
as mãos estendidas disse:
- Desculpe-me, amigo. Por um momento estava pensando somente no Pai e no
Seu Divino amor, Sua maravilhosa clemência para conosco e a sabedoria com a
qual Ele faz com que nossa fraqueza e nossos fracassos o sirvam.
- Agora, vou deixá-lo. Pratique os exercícios que lhe dei. Procure as
outras lições e, ao prosseguir no caminho, que a bênção do Pai caia sobre você.
Lentamente a cabine ficou sombria e escura, o movimento do navio tomou-se
perceptível. Jimmie sentiu as beiradas da cama e a maciez das cobertas, e com
sua mão estendida tocou a solidez da parede. Estava acordado.
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